Wednesday, February 01, 2006

ALTOS E BAIXOS.

Sempre ouvi um papo de que o brasileiro possui uma estatura padrão. Nem muito baixo, nem muito alto. E esse é o grande problema.

Por acaso existe no sistema métrico esta subdivisão?

Como milhões em nossa população descendem de povos europeus, temos gigantes circulando entre nós. Falo em nome de uma grande fatia de pequenos notáveis. Prometo não usar mais trocadilhos a partir daqui.

Toda aula de educação física reservada para peso e medida era aquele martírio. Se não me engano era uma no começo e outra no fim do ano, uma segregação a olhos vistos. Todos se deleitando com a ação natural em seus corpinhos juvenis: cinco, dez, algumas vezes até quinze centímetros, em um ano. Sim, em um ano. E eu ali, catando centímetros e usando palmilha para me sentir socialmente aceito.

Quantas noites mal dormidas e pesadelos por conta de um tal estirão que nunca me aconteceu. A família tentava incentivar: “Nossa, mas tomou chá de trepadeira?”. Só se for para soltar o intestino. “Mas espichou esse aí, hein!”.

Já maior de idade cheguei a uma altura melhor, longe do almejado um metro e oitenta, mas feliz. Quando ando na rua me sinto bem ao observar pessoas mais velhas e menores do que eu. Estufo o peito e ando orgulhoso, como um imponente galo de briga. O mesmo acontece quando me vejo de mãos dadas com alguma garota que se abraça a mim e fica abaixo da linha do meu queixo. Doce ilusão. No próximo encontro, o salto ou aquela bota com uma exuberante saliência me devolvem a sensação de jamais ter deixado as aldeias da terra da fantasia. Maldito gnomo.

Salva-vidas de aquário, pintor de rodapé, papagaio de pirata. Sofri. Confesso que sofri. Para uma pessoa de 1,72, diferente das pesquisas iBope que sempre consideram as variações de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, cada pontinho na escala traz muito valor, e é capaz de mexer com o orgulho. Não sou nem um “anão” de 1,70 nem um “gigante” de 1,75. Sou um típico brasileiro de 1,72 e não me venham com ajustes para baixo.

E fotos em escadinha então. Que situação. Nas partes mais altas, muitas vezes meninas, e eu ali, quase na base, à frente apenas daquele boliviano que realmente tinha problemas com a fita métrica, problema sério por sinal, e logo na seqüência a Carol, que se não me engano, tinha uma perna maior do que a outra.

Na horizontal é tudo igual. Desculpa esfarrapada. Para chegar nesse estágio você tem que necessariamente passar por um papo em pé, a não ser que você tenha a sorte de ter a sua maca emparelhada num romântico corredor hospitalar ao lado da pivô da seleção sueca de basquete. E mesmo assim, você precisa arranhar um sueco.

Não posso deixar de falara das compensações. Atravessar pistas lotadas, conforto nas poltronas dos aviões, herdar roupas dos outros com o popular “acho que serve pra você”, velocidade no futebol, e muito mais. Se você não tem a estatura padrão do brasileiro, azar o seu. Continue batendo a cabeça em batentes de porta e dormindo com as pernas para fora do colchão. Vareta de cutucar estrela.

Se a Xuxa ama os baixinhos já é um começo. Há um horizonte lá na frente. Basta pular para ver. Tamanho não é documento. A tendência é a fabricação de móveis com prateleiras mais baixas e a abolição por completo do fatídico “peso e medida” escolar.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

ao menos achastes alguma garota que se abraça em vc e ficou abaixo da linha do teu queixo?

4:01 PM  

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