Tuesday, September 30, 2014

ALT + LET

Chegamos da Disney cheios de histórias, lembranças inesquecíveis e uma grande certeza: a atração que dá mais medo é aquela dos brasileiros nos outlets.

A sensação é indescritível. Uma mistura de frio na barriga, vergonha e ânsia de vômito no final. Se a Tia Augusta estivesse viva (não joguei no Google pra confirmar o óbito), ia se envergonhar de ter aberto a porteira ianque.

- Mas esse tênis é 43, amor.
- Mas tá barato.
- Mas você calça 39.
- 39 e meio. Além disso, tem 50% na segunda peça.
- Oba! Vou ver se encontro um pra mim.

A farra dos descontos transforma ministro da fazenda em adolescente desvairado com mesada no bolso. A partir daí, o top 3 do que mais se ouve pelos corredores é “vale a pena”; “sabe quanto fica em reais?”, e “ainda falta a encomenda da Soraya”.

- Amor, tem certeza que precisa levar 19 desse hidratante de cereja?
- Claro, vale a pena.
- Mas você não acha um pouco enjoativo?
- Acho, mas acostuma. Além disso, são apenas 30 centavos por mililitro.
- Mas vai ocupar o maior espaço na mala.
- Então aproveita e já compra outra mala. Vale a pena!

Na hora da verdade, o transe consumista arranca o pior de todos os portadores do passaporte azul marinho. Entre uma arara e outra, a luta pela última camiseta “P” se torna mais violenta do que a repartição do bolo de São Paulo.


- Larga! Eu cheguei primeiro!
- Larga você sua... piranha de Governador Valadares!
- Credo, mãe, já larguei... precisa disso?

Preparadas para a invasão bárbara dos trópicos, as lojas contratam funcionários brasileiros e hispânicos. E pensar que aquele investimento de 18 meses no CCAA poderia ser gasto na Victoria Secrets...

- Please? “Puer favor”? How much? Quanto “cuesta”? El “priesso”?
- Tá na etiqueta, ô, anta consumista.

As compras começam racionalmente pelos tênis de corrida, perfumes e óculos de sol, mas rapidamente descamba para capachos da Tommy, tacos de golfe, armadilha para urso e por aí vai.

- Que que é isso, Nelsinho?
- Um bebê conforto. Lindinho, não é?
- É, mas você só tem 12 anos. Não acha que vai demorar um pouquinho para ser pai?
- Pergunta pra sua filha, aquela piranha de Governador Valadares.

Na hora de voltar pra casa, um pequeno probleminha: lidar com a mala. Para fechar, a família volta a se unir. O mais pesado senta em cima, outro fecha o zíper e um terceiro põe o cadeado.

Problema mesmo vem na hora de despachar.

- Lamento, senhora, mas são apenas duas malas de 32 quilos por passageiro.
- Faz vista grossa. Olha aqui, eu te dou um hidratante e...
- Lamento mesmo, mas além da quantia, essa mala excedeu em quinze quilos o limite.

(Olhando para o marido)
- E agora, amor?
- Tira as encomendas. A Soraya que se dane!

Monday, February 17, 2014

3 SÉRIES DE HAJA PACIÊNCIA.

Faço academia desde o final da puberdade e não me orgulho nem um pouco disso.

Tantos anos dedicados a malhação não me renderam músculos saltados, barriga negativa ou convites para pool parties. Por outro lado, acredito ter cultivado um dossiê bem do parrudo relacionado ao ecossistema da malhação.
 
- Bota peso aê, xará, tá fazendo fisioterapia? Ha... ha... ha...
(fortões riem pausadamente, controlando inspiração e expiração, enquanto mantém o abdômen tensionado)

Não importa o quanto você esteja ralando, sempre estará a anos luz dos reis e rainhas da maromba, com seus trajes fluorescentes e regatas indecentes.

- Espelho, espelho meu, existe algum trapézio mais lindo do que o meu?
- Sim, Jaime, o do Betão. Vai ter que tomar mais whey e caprichar na supersérie.
- Sério, man?

- Sério! E para de me chamar de man que eu sou apenas um espelho respingado.

Se tirassem os espelhos das academias, 99% dos escultores de bíceps, tríceps e quadríceps abandonariam os treinos, sem o menor arrependimento.

- Posso revezar, man?
- Claro, desde que antes tome uma boa ducha e coloque uma blusa com mangas.

Pode ver. Você monta o aparelho, ajusta o banco, o encosto do peito, faz um tremendo esforço para colocar as anilhas, senta para começar a primeira série e eis que alguém, de regata estilo frente única e suor abundante, pede para revezar.

Pior do que isso só a desagradável sensação de ser observado e avaliado bem no meio de um exercício de posterior de coxa, daqueles em que a bunda, do latim, glútiuns molengalyuns, fica vulnerável, visível para todos no raio de um quarteirão.
 
- Olha a postura.
- Não consigo. Tô focando em me manter vivo.
- Cotovelo pra dentro.
- Isso não é um exercício pra perna?
- Inspira pelo nariz, expira pela boca.
- Não diga!
- Contrai o abdômen como se o umbigo quisesse chegar nas costas.
- Cara, que tipo de ser humano fala uma coisa dessas?

Instrutores conseguem ser mais repetitivos do que os filmes com cachorros na Sessão da Tarde. Isso quando estão disponíveis para te ajudar. A fila preferencial do atendimento é encabeçada por coxudas de polainas, falsas magras de shortinho e desquitadas de collant inteiriço, que lembram vagamente aqualoucos querendo sensualizar.

Na hora do aeróbico, nova sequência de ajustes se faz necessário: quanto pesa, quanto mede, quanto pretende correr, qual é o PIB da Lituânia e por ai vai. Meia hora pra configurar a máquina X 10 minutos pra derreter como um polonês no banco de trás de um bugue em Natal. Esteiras, bicicletas e afins funcionam como um George Foreman Grill, só que sem o coletor de gordura.

- Viu? 400 ml de toxinas em apenas 20 minutos.
- Pelo amor de Deus, joga isso fora.

Como por mágica, o chão emborrachado logo abaixo dos seus pés começa a se mover. Ou você corre, ou estabaca de forma vexatória. Já num leve trote, percebe que o vizinho(a) de esteira aumentou a velocidade. Você não quer ficar para trás, quer campeão? Pois é. Seu espírito competitivo faz a vista ficar turva e você quase solicitar a entrada da maca. Hashtag “vergonha 5k”.

- Inspira pelo nariz, solta pela boca.
- Cala essa boca!

Por fim, uma torturante sessão de alongamento, só pra “soltar” a musculatura. Prefiro fazer a declaração completa do IR a um alongamento como manda o figurino.

- Olha a postura, man!
- Foda-se a postura, tô indo comer bacon.
- Nossa, que bavesa!

Haja paciência.

Thursday, February 28, 2013

O PAPA É POP.


Deu na capa do UOL: “Papa terá despedida em estilo Big Brother”.

Refleti, analisei os riscos de queimar no mármore do inferno, e não resisti.

O tema merece debate, afinal, não é todo dia que imaginamos um sumo pontífice disputando prova do líder, da comida, e, principalmente, adentrando ao confessionário em rede nacional.

- Diz aí, meu Papa, em quem você vota e por quê?
- Eu vou votar na Anamara porque ela é crente... crente que é gostosa. (e cai na risada)

Uma coisa é ser líder da igreja católica. Outra, completamente diferente, e não menos desafiadora, é liderar esta nave louca chamada BBB.

Como seria o convívio? A participação nas festas? A prova do anjo!!!

E no calor do Rio? Por acaso Papa entra em piscina? Se sim, de sunga ou bata dry-fit?

No top 3 das frases papais, certamente estariam:

“Se eu ganhar o milhão, vou doar integralmente para caridade”.

“O que acontece no quarto do líder, fica no quarto do líder”.

“Jesus, apaga a luz”

Impossível não imaginar o que aconteceria caso atendesse o Big Fone:

- Atenção: você está no paredão. Repetindo: você está no paredão.
- Como é, seu herege? Você sabe com quem está falando?
- Sim, com Vossa santidade, e torno a dizer: o senhor está no paredão. E você, sabe com quem está falando?
- Com esta voz metálica, só pode ser o anticristo.
- É o Boninho, Bento. Mas guarde este segredo.

E muito se engana quem pensa que o homem da mais alta patente no Cristianismo teria vida fácil no confinamento. Como outros participantes, também poderia virar alvo e parar no paredão.

- Eu voto no Papa porque ele não se joga nas festas.
- O meu voto vai no Bento porque ele já me excomungou duas vezes, e eu me sinto ameaçado.
- Bom, Bial, hoje eu voto em Vossa Santidade porque eu acho que ele é um adversário muito forte que faz uso de forças sobrenaturais nas provas de resistência, e conta com muitos fãs ai fora.

Na terça seguinte, com os batimentos beirando os 160, o emparedado apontaria para o telão da casa apresentando os amigos e fazendo coraçaozinho com as mãos.

- Bento, quer saber quem veio pra te dar uma força?
- Jesus! (e os batimentos aumentando)
- Não, este não veio. Mas olha só a caravana que veio de papamóvel pro Projac.
- Minha nossa!! Frei Estênio! O arcebispo de Forença! Os coroinhas! Todo mundo veio!
- Bento, o Padre Marcelo não conseguiu vir porque tinha show na Cinelândia.

Ao final. Com tantos fiéis do lado de fora, o Papa resiste com bravura a mais esta provação.

E semana após semana, vai movendo montanhas. E no final, com bravura e glória sagra-se o grande campeão do reality. Temos chuva de papel picado, fumaça branca e um discurso magistral de Pedro Bial. Bento não se contém:

- Brigado, Brasil!!! Brigado, Vaticano!!! Chupa Elieser!!!

Thursday, January 10, 2013

AR CONDICIONADO OU VENTILADOR DE TETO?

Na carona do verão chegam também a famosa costeleta de suor e a micro-piscininha umbilical.

Aí, minha gente, das duas uma: ou você abusa da regata canelada – o que não é tão aconselhável em tempos de Instagram – ou apela para o ar condicionado, este burguês da refrescância ambiental, ou um simples ventilador de teto, solução, digamos, mais paleolítica.

Para a turma do ar, a maior dificuldade é o ajuste do termostato. Um mísero grau, para cima ou para baixo, pode ser a diferença entre uma noite refrescante de sono ou o precoce divórcio do casal de pombinhos.

Alguns historiadores defendem inclusive que o conflito no Oriente teria começado por um desentendimento dessa ordem.

- Salim, inferno, já falei pra deixar nos 21 graus.
- É muito frio, Isaack.
- Tô derretendo.
- Quem manda não aparar essa maldita costeleta e desfilar de terno escuro no deserto?

No caso do ventilador de teto, o problema é rítmico. Uma porca mal ajustada ou a falta de óleo nas engrenagens pode convidar o ilustre e intermitente “nhéc-nhéc-nhéc” a passar a noite com você.

- Falei pra pegar o quarto com ar, Conrado.
- Mas era mais caro, meu broto.
- Dez reais. Dez reais, mais caro! Puta economia estúpida!
- Mas ventilador de teto é tão praia, amor... Além do mais, sobra mais dinheiro pra gastar na feirinha e...
(o ventilador desprende-se do teto e põe fim à discussão)

Aliás, no quesito barulho, o ar condicionado não fica tão atrás. Dependendo do estado de conservação ou potência do equipamento, você sente como se o Darth Vader estivesse no quarto, agachadinho ao lado do criado-mudo, respirando bem pertinho de você.

Além do já citado, o tema ventilador e ar gera acalorados debates na comunidade dos otorrinos, em sua cruzada contra a rinite e a secura da garganta.
Em tempo: pronunciar otorrinolaringologista em ambiente pouco refrigerado pode levar a desidratação.

Ruim com eles, pior sem eles. Dia desses, o ar do aeroporto do Rio inventou de parar. Ora, se os controladores, as comissárias e até a mulher da voz aveludada “Infraero, informa” já tinham feito greve, por que não o responsável pelo clima?

Na ocasião, o que mais se ouviu da boca de brasileiros foi “imagina na Copa” e, na ala dos gringos, “caipirinha, bunda e mulata”.

Por isso mesmo, pra não dar chabu, muitos estabelecimentos oferecem as duas soluções.

- Jacinto, precisa mesmo deixar os dois ligados?
- Claro que precisa. Tá pago!
- Mas e o desperdício? Cadê a consciência ambiental?
- Quando você desligar o secador e a chapinha, eu te respondo.

E assim, mais uma vez acaba a energia na noite da virada na praia. Alguém tem um leque?

Tuesday, August 07, 2012

O SER HUMANO MAIS RÁPIDO DO PLANETA.


Em ano de Olimpíadas, já que não rola índice nem pra disputar “duro ou mole americano”, o que me resta é escrever. Difícil é escolher o tema.

Que me desculpem os adeptos e fãs do badminton, do florete e do tiro com carabina, se é que existem, mas a minha preferência é e sempre vai ser os cem metros rasos.

- Até porque se fossem fundos eles se afogavam, não é?
- Meu, você não cansa disso?

Como não admirar a modalidade que revela o ser humano mais rápido do mundo? Aquele que, diferente de eu e você, insetos retardatários, terá sempre amplo favoritismo em caso de tsunami, arrastão e qualquer manchete do tipo “corram por suas vidas”.

Pra mim, cem metros rasos é sinônimo de momento histórico do esporte, daqueles que não saem tão fácil da memória.

Como esquecer, por exemplo, da retirada do ouro e do recorde de Ben Johnson, o homem que escreveu nos papiros do esporte (em 88 não tinha Wikipedia) o termo “esteroides anabolizantes”.

O doping do velocista de olhos amarelados, à lá Rincón, está entre as 3 lembranças mais fortes da minha vida, junto do presunto de PC Farias no Jornal Nacional e Augusto Liberato em chamas em um fatídico “Sonho Maluco”  (aqui para quem não se lembra: 
http://www.youtube.com/watch?v=0VxmA18GGh4). 

- Manhê, a Carolzinha tá ficando com a voz grossa.
- Melhor do que você que é menino e já tem seios. Traz logo a seringa.

Em menos de 10 segundos o sujeito ouve um tiro, larga, dá quarenta e poucas passadas, fatura o ouro, bate o recorde, põe o nome na história e você ainda não terminou este parágrafo. Pode cronometrar.

Para quem assiste, a diversão começa com a apresentação dos velocistas, filmados, um a um, a uma distância constrangedora dos seus collants e de seus “ pacotes” olímpicos.

Uns fazem cara de mau, outros se apontam no melhor estilo “eu sou o cara”, japoneses, coreanos e asiáticos em geral apenas prendem a respiração enquanto resolvem equações do terceiro grau. Não é difícil imaginar o Neymar fazendo suas coreografias e terminando em último.

- É, hoje não deu. A gente estava focado, fez o que o professor pediu, mas, infelizmente, não deu pra sair com o resultado positivo. Agora é levantar a cabeça porque 2016 tá aí.
- Tá sim. Toma vergonha nessa cara, moleque.

 Chega o tenso momento da largada. Um silêncio pesado, denso, opressor, rompido por um disparo seco e potente, uma espoleta enriquecida com esteroides anabolizantes. Páááh!

- Diz que o Bolt começou a correr depois de atirar no xerife.
- Cala a boca, Dirceu.

Hoje, Usain Bolt é o cara. Bicampeão olímpico, recordista mundial e uma vasta coleção de marcas inatingíveis. Carreira irretocável, não fosse o fardo de saber que um antigo adversário de pega-pega passa por pesados tratamentos à base de psicotrópicos desde os 5 anos em Kingston.

Aliás, acho também curioso o país caribenho mundialmente famoso pelo reggae e pelo relativamente uso massivo do cigarro de artista produzir os atletas mais rápidos do mundo.

- É tipo um doping natural, véi.
- Só.

Nove segundos e sessenta e quatro centésimos! Fico imagino o que sentem os participantes da marcha atlética, levando extenuantes 4726 segundos a mais para cruzar a linha de chegada e saber se levam medalha ou voltam para casa com a sensação de terem rebolado em vão
.

Que venham os Jogos de 2016 no Rio e o festival de piadas envolvendo o tiro da largada e o termo “pega ladrão”. Quem vai ser o primeiro?

Tuesday, May 22, 2012

POW! SOC! TUF!

Uma clássica onomatopéia dos quadrinhos dá nome a esse reality dedicado ao esporte que mais cresce em todo o mundo. (chupa, golfe!)

- Vééio! Você viu o TUF ontem?
- Nem. É bem no horário do Dr. Hollywood.
- Puts, pode crê!
 
O programa funciona como genérico do Prozac no combate a depressão dominical. Em sua fórmula de sucesso reúne, Galvão, socos e pontapés, dramas existenciais, piriguetes em trajes mínimos, bem versus mal, além de péssimos merchandisings que fazem o cara da TekPix merecer ouro em Cannes.

Tudo começa com Galvão Bueno, em sua luta épica contra a idade, despejando maneirismos e cumprimentos “tapa/soco” durante a transmissão, enquanto explica desnecessariamente o que acontece no programa.
 
- Você está pronto? Tá pronto? Então vamos lá.
(virei tiozinho, tô ficando corcundinha, mas ainda me enturmo com a rapaziada)

Os nomes dos valentões que vão sair no tapa são anunciados. De um lado, os pupilos de Vitor Belfort, o gladiador do terceiro milênio de Deus. O Kaká do Vale Tudo. Do outro, o grupo de malfeitores trinado por Wanderlei Silva.

Se nome de lutador ganhasse briga, a maioria nem precisava entrar no octógono: Pé de Chumbo, Massaranduba, Mutante, Cachorro Louco, Diabo Loiro, Mameluco Assassino.

- E ai, já decidiu?
- Sim. Vou de Betão “Trans” Nascimento.
- Que é isso, Betão? Quer ficar famoso como o transformista do MMA?
- Não, mano. É de “gordura trans”, a maior inimiga da humanidade.
- Tesão!

Vem a pesagem oficial. O lutador se aproxima, tira a camisa, a bermuda, e sobe na balança – tipo “peso e medida” de educação física, só que em rede nacional. Os demais aplaudem enquanto o homem na balança range os dentes e mostra o muque.

Aqui, diferente da seção de frios do Pão de Açúcar, se ultrapassar míseras gramas, não rola tirar umas fatias de presunto da bandeja.

- Perca peso. Pergunte-me como.
- Como?
- Gola rolê dentro do trem na hora do rush.

Depois da pesagem, vem a encarada. Ternura e ódio no mesmo pacote. Nada no mundo do esporte chega perto disso. Dois brucutus, olhos nos olhos, controlando boca e queixinho num esforço supremo para conter o riso.

- Piscou!
- Não pisquei!
- Piscou sim. Dá essa tetinha aqui, dá.
- Não pisquei, porra! Vai encarar?
- Ué, não é isso que estamos fazendo?
- Ah é, mal aê, mano!

Chega o momento mais aguardado. Entra a piriguete mostrando o número do round. Soa o gongo e começa a falsidade. Os lutadores tocam as luvas amistosamente como se já se desculpando pelo que vem a seguir: “mal aê pelo supercílio que eu vou abrir” ou “mal aê pelo genital que eu vou encostar em você na hora da montada”. Nada pessoal.

Depois de uma centena de murros, voadoras, joelhadas, ou uma simples guilhotina bem aplicada, temos o vencedor e a possibilidade de um contrato com o campeonato mais rico do planeta.

Ao perdedor, o gosto amargo da derrota, misturado com o de sangue pisado, e a possibilidade de um contrato de figuração nos filmes do Steven Seagal, que vem logo na seqüência, no Domingo Maior.

Anda, traz o Prozac.

Wednesday, November 09, 2011

LICENÇA PRA PEGAR O TACO.

Dentre os esportes que mais pratiquei na fase “moletons da Sulfabirl”, destaca-se o taco, modalidade íntima de pisos como areia, cimento, grama, ladrilho hidráulico, entre outros.

- Licença pra pegar o taco.
- Uuuiii, santa! Licença concedida.

O jogo, em sua versão original, traz uma cartilha de frases constrangedoras, até para o mais liberal dos camaradas.

Começa com licença pra isso e quando percebe, o jogador se vê algemado a um mundo regrado, onde pede-se licença até para olhar o anúncio de conscientização ambiental trazido pelo aviãozinho que cruza o horizonte.

- Licença pra vestir camurça.
- O jogo já acabou, Jair.
- O jogo do vestir-se bem não acaba jamais, mon chéri!

A nobre arte do bets, nome bretão da modalidade, possui legião cativa e apaixonada de praticantes no mundo todo, mas, infelizmente, não conta com sindicato ou associação, o que torna difícil entrar para os disputados planos Olímpico e da Copa Dan’up.

Contudo, circula por aí a criação de um mundial interpraias, que aconteceria de 3 em 3 solstícios, coincidindo com as aparições do Halley e do Renato Aragão engatinhando no braço do Cristo.

- NÁÁÁDA!
Exclamado como se não houvesse amanhã, significa a proteção momentânea à tão visada casinha contra investidas adversárias.

- TUDO!
- Então como é que é?
- É!!!
- É pique, é pique, é pique, é pique, é pique…

Brincadeiras infames como a do diálogo acima são algumas das formas de transformar a disputa numa batalha campal. Outra forma, muito comum, é a da instauração de CPIs aleatórias, das quais destaco a CPI “das duas para trás”; CPI do “mas eu tava com o taco na base”; e a CPI do “queimou sim”.

- Três pra trás.
- Foram duas.
- Foram três. Licença pra pegar o taco.
- Uuuiii, poderosa! Licença concedida.
(e nova batalha campal)

O prazer em acertar a bolinha na veia, aproxima-se da satisfação que se sente ao chegar a sua vez de usar o banheiro químico na Campos de Bagatelli, em dia de festa da CUT.

Mas, no velocímetro do prazer, a satisfação máxima produzida pela rebatida perfeita reduzia-se a pranto absoluto quando o adversário, num salto de ginasta romeno, capturava a bolinha no ar, exclamando, simultaneamente “mão negra” (ou o termo que preferir).

Após algumas rebatidas, e sucessivas cruzadas de taco no centro do campo, um ritual funesto punha fim ao sonho de recuperação adversário. Uma cruz, montada bem no centro do campo, deixava claro que ali jazia mais um fraco adversário.

- Próóó-xi-mooo!!!

E aí, concedia-se a última e mais justa das licenças: a de bater o taco com toda a força na têmpora rival.