Friday, March 28, 2008

NEM PARECE BANCO. ENTÃO NÃO QUERO.

Prospectos rigorosamente alinhados, o doce barulho do painel de senhas, idosos, gestantes, auxiliares administrativos num agradável mix de faces e necessidades conflitantes. Como eu gosto de ir pessoalmente ao banco.

- Ô pangaré! Por que você não paga pela internet?
- Me deixa.

Sou capaz de me colocar deitado nu frente ao tanque do progresso e da modernidade. Na medicina, na engenharia e na indústria do amanteigado sou a favor. Agora em banco, onde o meu ordenado repousa em silêncio, nem pensar.


Não confio muito nessas transações onde não podemos ver o dinheiro mergulhando na gaveta do caixa. Conta só considero paga após ouvir o confortante “eh-É-eh” da autenticação mecânica.

- Diz que no banco da Verô tem até piscina dentro. O gerente trabalha sem camisa e o dinheiro é guardado em latas de biscoito e bomboniers de acrílico. Não é tudo?

- Nossa, nem parece banco!

Pra mim banco tem que ter cara de banco, luz branca de banco, fila de banco, cheiro de banco. Tem que ter também seguranças que se acham os donos do banco, caixas que se acham gerentes do banco e gerentes que acham que são nossos amigos de infância.


- Próximo.

- Bom dia, eu queria pagar esta c...
- Próximo.
- Eu falei bom dia. Enfim, queria pag...
- Não é neste guichê. Próximo.

O bom banco deve mantê-lo pelo maior tempo possível dentro de suas instalações, fazendo com que você tenha contato com até 7 profissionais em uma só sessão, sendo que 5 deles devem estar retornando do horário de almoço (com o crachá virado para as costas para dar um ar jovial), 1 deve ter o sobrenome Lopes e 1 deve estar sobrecarregado, atendendo ao mesmo tempo a duas ligações telefônicas, trocando o cartucho da impressora (ou desemperrando com brutalidade uma folha engasgada na mesma) ao mesmo tempo em que comunica-se por intermédio de expressões faciais com o idoso sentado logo à sua frente. Ufa.

- Próximo.

(falando baixinho) - Eu gostaria de sacar 8 mil reais.
(falando bem alto) - Oito mil reais? Notas grandes ou trocado?
(olhando para os lados constrangido, e ainda falando baixinho) – Apenas mil trocado, por favor.
(falando ainda mais alto enquanto bufa e conta o dinheiro) – Depois ainda diz que a situação tá difícil. Próximo!

Quer privacidade? Procure um motel. No banco, os únicos detalhes da sua vida particular que ficam de fora, são os objetos metálicos confiscados na entrada pelo segurança que controla a porta rolante.

- Algum objeto de metal?

- Ah claro, minha chave-inglesa da sorte, os pinos do meu joelho e o CD pirata do Iron Maiden. Pronto.
Piii.

Não espere compaixão. Estamos falando do seu dinheiro, não dos seus sentimentos.

Da próxima vez que tentarem levar suas economias para um lugar que não pareça banco, resista até o último centavo. Viva a burocracia!