Wednesday, February 28, 2007

INVEJA DE CÃES E GATOS.

Os melhores ingredientes. Carne tenra e macia, sempre fresquinha. Aquele tempero com gostinho da fazenda.

É, você já deve ter reparado o quanto as “comidinhas” de cães e gatos ficaram mais gostosas nos últimos tempos. Dá água na boca.

Ontem mesmo vi um novo comercial de ração, com um apetitoso diferencial: uma camada extra de molho de carne, revestindo toda a deliciosa rosquinha macia.

Gostaria de saber o que se passa na cabeça dos profissionais de novos produtos no momento da criação. De onde saem as grandes sacadas de combinações de sabores?
Carne de cordeiro com mel. Perdiz na manteiga de garrafa. Linguado na moranga.

Será que vão a campo fazer pesquisas? “Ei, Lessi, vê se tá muito salgado”; “Pssst, Boris, o que você achou dos aspargos?”.

Meses e meses de trabalho. Testes, apresentações, um punhado de executivos passando calor de terno, latidos, miados, mordidas e arranhões para despejar no mercado a re-invenção da roda: a nova ração sabor infância canina.

Consigo ver o filme na cabeça: um Schnauzer adulto entra em cena, chamado por seu dono, que acaba de despejar a nova ração na tigela. Ele mastiga, fecha os olhinhos e viaja para o passado numa imagem embaçada (efeito para ilustrar o flashback). São recordações vivas e emocionantes: ele lembra dos tempos de primário, a primeira festa junina, a primeira vez em que viu o mar. Ele desperta do transe e vê a tigela vazia logo a sua frente. Assinam com locução bem animada falando sobre o novo sabor.

Até onde sei, cachorro come de tudo. Gato gosta de peixe. E eu odeio gato. Porque diabos não lançam uma ração sabor gato para cachorros. Controle de natalidade. Cadeia alimentar. Justiça canina. Sei lá.

- Ai, mas você não gosta de gatos?
- Não.

Eu adoro animais, mas nem por isso acho que seja necessário brincar de inventar comidinha de gente grande para eles. E antigamente? O que você acha que seus avós davam de comida para os animais? Acha que tinha ração sabor risoto milanês? Os bichos comiam o que tinha, e nem por isso viviam menos do que vivem atualmente. A dieta dos animais era muito mais balanceada.

A disciplina condicionou os animais a não ficarem “beliscando” de meia em meia hora, abrindo a geladeira ou a dispensa, para ver se não tem algo novo em casa. É café, almoço e janta.

Do jeito que as coisas andam, não é difícil imaginar um cenário, onde somos nós que devemos fazer acrobacias frente aos animais, em troca de um ração crocante sabor chorizo no vinho, recheado de alho poró.

Imagine aquele seu primo que tem uma perna mais curta, rolando de um lado para o outro, enquanto um velho Cocker, do alto de sua poltrona felpuda, analisa se dá ou não um pedacinho.

Eu mesmo morria de vontade de comer aquele Biscrock de recheio cremoso. Não resisti. Comprei 3 pacotes grandes, abri uma cerveja e sentei para assistir um jogo na TV. Uma delícia. Meus amigos mais próximos dizem até que minha pelagem anda mais brilhante e macia. Vai saber.

Dá até para propor um programa de receitas envolvendo combinações deliciosas de rações na TV. Uma espécie de Ana Maria Braga onde quem experimenta as iguarias é o Loro e a poodle Belinha.

Cachorro é tudo de bom. Os gatos preferem Whiskas. E eu invejo o que eles comem.