Monday, July 26, 2010

BALSA OU FERRY BOAT?

Vivemos um super aquecimento nunca antes experimentado, talvez apenas pelos proprietários de Fiat Tempra, referente aos cursos populares de idiomas.

Com um pouquinho de tempo, dinheiro e zero de vergonha na cara, todos podem seguir o bom exemplo do titio Joel Santana.

- Muito bom o seu teste, Gilmar. Acho que podemos alocá-lo na turma dos intermediários vespertinos.
- Mas eu só falei McDonald’s, Play Station e New Kids on the Block...
- Pois é. Aqui nós reconhecemos um grande talento de longe.

Graças a este fenômeno, o mundo corporativo está inundado de currículos com candidatos nível “básico” no inglês, avançado em espanhol, e experts em linguajar chulo de Orkut.

Inglês fluente então? Minha nossa. O império da charlatanice lingüística.

- Mas Amadeu, pelo que vi no seu perfil na Catho, você dizia ser fluente.
- Influente minha querida, influente. Já passo dos 300 seguidores no Twitter.

O grande problema por trás dessa patifaria é a crescente falta de identidade nacional, puxada por palavras de efeito em inglês: insight; pipeline; benchmark; approach, give me five...

- Gente, tá tudo muito sem sabor. Precisamos ir mais longe, pensar grande, ir out of the box.

(enquanto os novos contratados cochicham entre si)
- Por que ele é assim?
- Diz que bebe Campari.
- Ah, tá.

Na minha opinião, se tem tradução em português, e além de tudo, é mais curto e fácil de dizer, pra que complicar?

- Podemos decidir isso numa round table.
- Fuck you. (dane-se, segundo os tradutores de filmes da Globo)

Pior do que usar o termo em inglês e torná-lo um verbo conjugado em português:

- Eu brainstormo. Tu brainstormas. Ele brainstorma. Nós brainstormamos. Vós brainstormais. Eles brainstormam.

E olha que brainstorm é uma das raridades que ficam melhor do jeito que estão, afinal de contas, “tempestade cerebral” tem mais cara de novela da Record. Glamour zero.

E direto do Bronx para os departamentos de TI das empresas, os deliciosos, “Downlouda aí, mano” e “Boota (buta) aí, malandro”.

Anyway? Whatever?
Já vi gente dar voadora na clavícula por muito menos.

Concordo que o mundo necessite de um idioma oficial, comum a todos, o problema é que esse idioma é o inglês e só o inglês, e não um mix de português, gírias bairristas de Santana, e uma ou outra palavra escolhida aleatoriamente no Michaelis, a R$ 29,90 na Siciliano.

- Nossa, a Martinha tá bonitona, enxuta. Tá rolando um upgrade forte.
- Não é pilates?

Radicalismos à parte, happy hour é mesmo bem melhor do que hora feliz, mas patrão é e sempre será melhor do que “head” de alguma coisa, e exibido, disparado mais legal e ofensivo do que “show off”.

E nesse cabo de guerra português-inglês, ganha quem pode ser dar ao luxo de na hora do lunch andar de ferry boat. Valeu professor, Zeca, upper intermediate pra você.

Monday, July 12, 2010

O CRAQUE DA COPA CHUTA COM AS 8.

Nem Messi, nem Kaká. Rooney, Drogba, Ribery? Meu Deus. E o Cristiano Ronaldo? Cara, como apostar num jogador que tira sobrancelha?

Dos grandes nomes da Copa, Maradona foi o que mais chegou perto da glória, lidou muito bem com os holofotes, com a imprensa, estava dando graça ao mundial, até ser eliminado de forma arrasadora e até surpreendente nas quartas.

Surpreendente? Não para o grande nome da Copa 2010, o polvo vidente.

Sou completamente apaixonado por futebol, e ainda mais por Copa do Mundo. Mas no campo das ciências biológicas, sou um grande entusiasta dos polvos.

Sempre gostei de vê-los na TV, seja em filmes, documentários ou desenhos. Adorava ver o baile que suas pedaladas insinuantes davam no Aquaman, que apelava para sua telepatia. Tão apelão quanto os holandeses. Coisa de quem se veste de laranja.

Pelo que sei e estudei, este Robinho oceânico de oito braços, ou pernas, é uma das criaturas mais inteligentes do planeta, seguida de perto pelo Delfim Neto. Graças a um grande volume cerebral o polvo é capaz de aprender, memorizar, desarrolhar tampas de frascos, esconder-se, resolver problemas, sair de labirintos, além de dirigir perua escolar em São Paulo e cantar, como poucos, os grandes sucessos da Simone.

- A voz do polvo é a voz de Deus. (e dá uma gostosa risada com as mãos sobre a pança)
- Cala essa boca, Eli.

Tanta inteligência e sensibilidade rederam ao cefalópode invertebrado a chuteira de ouro no campo da vidência esportiva, desbancando outros fortes concorrentes extra-campo.

Nem a paraguaia, jogando com sua dupla de cabeças de área sempre avançada, fez sombra ao craque aquático. Aliás, um amistoso entre a representante de Assunção e o enviado do além mar seria um belo evento pay-per-view:

- Nossa, como você é envolvente. (risinho safado) Parece que seus braços se multiplicam.
... Burra dos infernos (reflete o polvo, cansado da conversa fiada de sempre).

Futebol e loteria. Uma caixinha de surpresas? Muitos desconfiam. Na era dos resultados fabricados há quem garanta que o polvo teria sido trazido pelo Biff Tannen do futuro para enriquecer ilicitamente durante a Copa da África. Juro que não duvido.

- Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, digam ao Polvo que fico.
(Enquanto Ferreirinha, lenda viva da cadeira de história do Brasil nos cursinhos Etapa, se mata de rir, os alunos entreolham-se arrependidos da escolha dos pais).

Com o fim do mundial, começam também as especulações envolvendo transações milionárias. Qual magnata russo ou rei do petróleo será o excêntrico da temporada de compras na Oscar Freire bretã?

Mas a pergunta que mais merece reflexão é: e o polvo, vai pra onde? O que será dele?

Circulam informações de que já teria um pré-contato apalavrado com a Marie Claire, para o horóscopo da virada. Seu procurador desconversa, mas não nega. Fala também da possibilidade de ingressar no elenco estrelado de Bob Esponja, e de uma vaga cativa no júri técnico da Dança dos Famosos.

Muitas possibilidades em jogo, pouco tempo para decidir. A hora de fazer dinheiro é agora. Mas, se tem uma coisa que ele não precisa se preocupar é com as escolhas que faz. Diferente do molusco tupiniquim, ele nunca erra.