Tuesday, January 31, 2006

NO ELEVADOR.

Ascensoristas. O nome é bonito, o dever é nobre, e a vontade de ir além do “pois não, qual andar?”, sem tamanho. Mau humor, frio, pasta na nuca, cheirinho de pão de batata do delivery lá pelas onze e meia.

Aperta o 15. Doze por favor. Eu vou no quatro. Mas esse tempo tá uma loucura. E o Natal que já tá aí. Diz que vai chover. Por que ninguém entra confidenciando a sacanagem da noite anterior, ou revelando algo sobre o Pacheco do oitavo?

Tentei ingressar no concorrido ramo dos elevadores na infância, em busca de uns trocados para comprar figurinhas da Copa União. O plano era ousado e o gosto cítrico: comércio de limonada na locomotiva vertical do meu prédio. Minha “quitanda” e os cubos de gelo não resistiram há três viagens para cima e para baixo. Tirei o restante do dia de folga.

Faço de tudo para sair do lugar comum, mesmo que seja difícil numa caixa de dois metros quadrados. Geralmente critico quem acaba de descer num andar antes do meu. O sorriso é imediato. Outro papo é emendado. Não que possua fantasias secretas com essas batalhadoras, mas, cá entre nós, aquele conjuntinho azul marinho e o coque bem executado, numa subida alucinante até o dezoito, me fazem repensar alguns conceitos.

Na despedida um obrigado sincero prontamente retribuído com uma piscadela. Gostaria muito de saber se elas olham para a minha bunda. Talvez sim, talvez não. Na dúvida dou uma contraída nos músculos, típica de quando tomávamos vacina. Em tempo: homem que é homem, só toma injeção no braço. Topa uma Benzetacil?

Bom fim de semana, bom feriado, boa Páscoa, bom batizado do filho do primo da sua comadre Berenice. Falo de coração.

Por mais quietinhas que sejam, elas ainda possuem, duas orelhas, dois olhos, um nariz e uma boca. Não diga tanta asneira, não se coce, não passe a mão no redemoinho de pêlos em volta do umbigo. Não tire o tênis, não faça piadinhas infames como “só assim pra subir na vida”, não fique parado perto da porta, não peide. Um longo texto de preparação para abordar um tema cercado de tanto tabu. Não flatule em recintos fechados, por favor.
Fica aqui uma homenagem àquelas que nos conduzem com maestria a estágios superiores da vida. Sim, ainda penso em reativar o lance da limonada. Aceito sociedade.