Friday, December 17, 2010

NATAL NA CASA DO INRI.

Luzes piscando pela cidade, guirlandas colaborativas e sacrifícios de renas. É o Natal que já se aproxima a olho nu.

Lembro de já ter escrito algumas vezes sobre o evento, sempre abordando temáticas diferentes, mas acho que nenhuma se compara a esta: a celebração do Natal na família do Inri Cristo.

- Meu p’haaai.

Acreditando ou não em sua história, em seus poderes milagrosos e suas chagas, gostaria de elogiar publicamente a coragem desse sujeito que, da noite para o dia, decidiu largar a mesmice cotidiana, um empreguinho vagabundo, e assumir o posto, vago há muito tempo, de reencarnação de Jesus.

- Meu amigo secreto é uma pessoa muito diferente.
- Tia Abigail!
- Não, a pessoa que eu tirei não tem lábio leporino. Em compensação, tem um sotaque bem engraçado.
- Então é o Claudio Carsughi!
- Quem??? Tá bom, vou facilitar: usa coroa de espinhos de plástico comprada na 25.
– É o Inri!!!

Amigo secreto natalino tende a ser aquela lengalenga. Mas não na casa do Rei dos Reis. Lá, Natal é levado a sério e vale tudo pela animação.

- É p’haaavê ou p’haaa cumê?
- Cala a boca, Inri.
- Não fala assim com seu tio. Ele é um santo.
- Desde quando santo assina Hustler e aposta em cavalos?

Natal é época de visitar parentes e amigos, numa maratona de peregrinações que desafia a física e levanta a questão: como estar em tantos lugares ao mesmo tempo?

Para Inri, isso não é problema. É apenas a confirmação de mais um de seus dons, o da onipresença, sempre colocado à prova nessa data tão especial.

Se o termômetro não pular e o tenro e suculento peru ficar esturricado e com gosto de nuca de caminhoneiro, relaxa. Quem tem Inri na família conta com trapaças mágicas de montão.

Mas o grande milagre operado pelo messias de nome sujo no SERASA foi conseguir saltar de Áries para a Capricórnio no tabuleiro do zodíaco. Inri, que nasceu Álvaro em Indaial, interior de Santa Catarina, no dia 22 de março de 1948, sopra agora as velinhas no mundialmente aguardado 25 de dezembro.

- E pro Inri, nada?
- Tudoooo!!!
- Então como é que é?
- É
- É pica! É pica! É pica, é pica, é pica...
- Gente! Qual é? O cara é um santo!

Pros convidados da farta ceia, uma dúvida sem resposta: comprar um presente pelo Natal, um pelo aniversário, ou apenas um, só que mais caprichado?

Em tempo: assim como Inri, sempre me dei mal nesse lance de fazer aniversário perto de data importante (o dia da criança) e ao invés de dois pacotes, ganhar só o tal “caprichado”.

- É pra você mesmo ou é um presente?
- É presente.
- E o aniversariante é magro ou do tipo mais “fortinho”? (vendedor nunca fala gordo)
- Bem magro.
- Viaja bastante?
- Vive em todo lugar.
- E é jovem ou tem idade? Qual o perfil?
- Puts, complicado. Tem horas que é pai, horas que é filho e até espírito santo.

E enquanto milhões de crianças ao redor do mundo aguardam ansiosamente a chegada do Papai Noel, na casa dos Cristo a espera é pelos Reis Magos. Difícil é convencer 3 parentes a se vestirem com roupas de época, em pleno verão, correndo o risco de subir no elevador do Condomínio Edifício Lacerda III com outros condôminos, que seguram o riso.

- Tô indo no Inri.
- Ah, tá. Aproveita e manda aquele Judas parar de estacionar o Kadet dele na minha vaga.

A todos os queridos amigos, um feliz Nat’haaal!