Wednesday, May 04, 2011

JOVEM, AO COMPLETAR 18 ANOS, ALISTE-SE NO EXÉRCITO, MARINHA OU AERONÁUTICA.

Na vida de um homem, completar 18 anos não é nada fácil.

Além de passar no vestibular e tirar a carteira de motorista (de primeira), é preciso passar pelo alistamento militar.

Lembro de ter sofrido por 365 dias, antes de, finalmente, “escapar”.

- E ai, filho, como foi?
- Super tranqüilo, mã! Já até jurei bandeira.
- Sério!!!
- Não. Volto semana que vem pra pegar a farda que ficou pra fazer barra.

Para uma porção de rabudos, o alívio vem de carona com o termo “excesso de contingente”, vulgo “Relaxa! Por hoje já ferramos com gente o suficiente”.

Depois, basta jurar bandeira e mostrar que não são apenas os jogadores da seleção e a Vanusa que sofrem com a letra do hino nacional.

Vesguice, pé chato, escoliose, trombose, voz fina, orelha de abano, caspa, piolho, dente de leite. Se não vai por excesso de contingente, vai por excesso de criatividade.

- E você, moleque? Tem o quê?
- Um valete de ouros e um oito de paus.
- Tá achando que isso aqui é teste de VT pro Zorra Total? Vai praquela fila.
- A de quem vai jurar bandeira?
- Não, a de quem vai jurar pra não servir no meu pelotão.

Na hora do vamos ver, tem muito bombado que se faz de corcunda pra escapar. A lista dos dispensados parece até fila de reembolso da Caixa.

No ano anterior ao do alistamento, chove parente pagando de influente, dizendo conhecer gente no alto escalão, que não precisa se preocupar.

- Mas tio, o Coronel Mostarda não existe.
- Tá duvidando da minha palavra?
- Não, é que...
- Se preferir, posso contatar meu grande amigo de biriba, o Brigadeiro Luis Antonio.
- Ai, meu Deus.

A tremedeira sempre começa junto com o comercial na TV que diz: “Jovem, ao completar 18 anos, aliste-se no exército, marinha ou aeronáutica” intercalando cenas de combate, recrutas rastejando, pilotando jipes e furgões, e desfilando no 7 de setembro.

Propaganda extremamente enganosa quando comparada à dura realidade dos coturnos a engraxar, das batatas a descascar, das continências a bater.

Mas o pavor mesmo vem no dia do exame médico. Enfileirados – altos e baixos, brancos e negros, gordos e magros, dotados e complexados – todos devem, ao comando de um apito, baixar as calças e soprar com força as costas do punho direito.

Se o “pacote” inchar, além de dispensado, o recruta é imediatamente indicado aos produtores do Ratinho.

- Nossa, acho lindo homem de farda.
- Que bom, Regis! Repete isso pro sargento que você escapa de primeira.

E assim, com uma colônia de acne no rosto, PH do suco gástrico em níveis alarmantes, e totalmente traumatizado, o jovem rapaz ingressa na vida adulta. Que venha a declaração do IR!