Monday, January 22, 2007

COMO É CHATO COMPRAR TERNO.

No último fim de semana tive que sair para procurar terno. Meu irmão vai se casar.

O que para muitos poderia ser simples, corriqueiro, para mim se configurou no caos total, uma guerra de medidas e arremates, com inimigos implacáveis como cós, cavalo e costume.

Já comecei errando ao sair de casa sem meias.

- Olha essa barba, filho. O que o vendedor vai pensar?

Sim, utilizei o artifício “mãe” para ajudar nos procedimentos. Senti-me num daqueles quadros “dia de princesa”, banho de loja. O bárbaro vai às compras.

- Que número você usa?
- Não sei.
- Que cor você procura?
- Branco.
- Branco nada, filho. Casamento à noite pede terno escuro. Vão comentar.
- Mas eu quero um claro, de linho.
- Você é malandro?
- Então, que cor devo pegar?
- Algo puxando para o cinza.
- Tipo minhas calças de moletom aflaneladas?

Chato. Queria algo mais extravagante. Nunca ponho terno na vida. Hora de provar tudo.

- O costume está com desconto progressivo.
- Que raio é isso?
- O costume ou o desconto progressivo?
- Os dois.
- Costume é o conjunto calça-paletó.
- Jura?
- Desconto progressivo vem da compra de mais e mais peças. Um costume, 10 por cento. Dois costumes, 25 por cento. E assim por diante.
- Que bom. E quanto eu pago pra já sair logo daqui e não ter que provar mais nada?
- Calma. Aceita uma água ou café?
- Óbvio que não.

Após vestir diversos costumes, abotoar colarinhos, prender a respiração em todas as vezes, veio o pior: a acupuntura da moda. Alfinetes rentes ao calcanhar indicando que não cresci o suficiente na puberdade. Tirar a calça é pior ainda. Vai que o alfinete engancha em mim, ou pior, a marcação se desfaz. Deus me livre.

- Um tio meu pegou tétano enquanto marcavam a barra.
- Não repara moço, é que ele não tomou café da manhã.
- Aceita uma água ou um café?
- Não.

Além do medo dos alfinetes outra coisa me deixa tenso. A posição do vendedor fazendo a marcação. Não é nada confortável, ele fica ali, semi-agachado, numa distância extremamente perigosa do seu “cós”.

A manga deve avançar cinco centímetros sobre o punho. A camisa deve passar a manga do paletó. Cruzando os braços você deve se sentir confortável dentro dele. A calça deve estar praticamente na altura da sola do sapato. O cinto deve estar no quinto buraco. O saco deve estar na Lua.

- Tem cinto? E gravata? Não quer aproveitar a promoção das meias de popeline? O preço tá ótimo. Aceita uma água ou café?

- Não. Eu só quero pagar e fugir dessa jaula de vidro e parar de olhar para este seu sorriso irônico. Eu não sou seu amigo, não vou te chamar para a primeira comunhão da minha afilhada e o seu cheiro está irritando meu olho. (apenas o “não” foi realmente dito).

- Onde eu pago?
- Suspensório não? E cueca? Não precisa de lencinho? Um cafuné do Breno, nosso gerente?
- Obrigado. À vista tem desconto?
- Claro. Dois por cento. Mas você também pode parcelar em dezesseis no cartão, dar quinze cheques de terminações ímpares, ou assinar aqui deixando em testamento seus trabalhos da quarta série.

Opto pela opção à vista. O desconto faz a conta se transformar numa dízima periódica.

- E agora?
- Já tem cadastro com a gente? Gostaria de receber nossos informativos por correio? Aceita uma água ou café?

Tanto sacrifício pra nada. Tudo ficou para “pequenos ajustes”. Não consegui esconder minha decepção. Cheguei em casa triste, pensando no cós, na bainha, no costume super100. Tudo parecia perdido, até me despir para o banho e ver que a meia social emprestada ainda adornava minhas canelas, como um troféu silencioso de uma clássica vitória por baixo dos panos. Adorei.