Tuesday, November 13, 2007

CRIANÇA PRECOCE É UM SACO.

Política, religião, esportes e economia. Elas já têm uma opinião. Divórcio, virgindade, tatuagem e aquecimento global. Elas já sabem de toda a verdade.

Aquela voz doce, aguda e petulante traz um ponto de vista ácido, geralmente emprestado de alguém mais velho, de um professor, parente, tio da natação, motorista da perua.

Sem querer dar uma de nostálgico pirulito, mas pertenço a uma geração que costumava apanhar, e como apanhava, quando tentava me comportar aquém de minha idade. Cinta na porta, chinelo na mão, engole esse choro.

- Precisa ver que bonitinho. O Luisinho sabe até a capital dos países Bálticos.
- Manda ele pro Itamarati.

Crianças que soletram, que fazem contas de cabeça mais rápido do que calculadoras, que decoram datas marcantes como a da queda de Constantinopla e a do primeiro beijo entre almirantes, em barcos de menos de 50 pés, no cinema.

Há uma evidente inversão de valores no aprendizado mirim. Hoje, ao invés de simplesmente levar um belo tombo ou pronunciar de boca cheia “xixi” e “cocô”, decoram o nome do cara que descobriu a lei da gravidade e são instruídos a usar “urina” e “fezes” para as necessidades fisiológicas.

Morro de medo dessas crianças vestidas com terninho e vestidinho de noivinha em casamentos. Fico com a impressão de que a qualquer momento suas cabeças podem rotacionar 360º, como as de uma boneca possuída.

- Olha que graça. Nem consegue se mexer dentro do paletozinho.


Semana que vem aparece cantando “Canção da América”, num desses programas da TV, que estimulam a miniaturização dos sentimentos – ótimo nome de livro, desses que encabeçam a lista dos mais vendidos.

- Diz que as ações da Vale vão subir.
- Quem disse isso?
- Eu.
- Leozinho, o papai já não falou pra você ficar no quarto nas noites de pôquer?
- Posso ao menos levar um Cubanito?

Que criança, em sã consciência, utiliza termos como “ao menos”? Como me incomoda. Não que seja digno estimular “num quélu” e “qué faze naninha depois de papá”, mas usar “concomitante” durante a apresentação teatral no Jardim II, também já é demais.

A filha do Raul já dirige balsa. O irmãozinho da Helena já tem celular e personal trainer. O caçula do Jonas imita o Sarney.

Gosto de criança suja. Quanto mais espessa for a camada de gordura e pó acumulada na gola, mais respeito terei pelo pequeno ser humano. Cortou o dedo, ganhou ponto do tio. Falou “nós somos o futuro do planeta”, ganha uma palmada.

- Ah, já chega! Vou comprar e pronto.
- Não faça besteiras, amor. Não é melhor ligar e ver o que o Dudu pensa sobre isso?
- Mas ele só tem 3 anos.
- Eu sei. Eu sei. (e começa a chorar copiosamente)

As fases da vida foram criadas por algum motivo e não devem ser puladas. A história recente traz provas contundentes: o moleque que fez “Esqueceram de Mim” tornou-se um perturbado. Os loirinhos do “Hanson” trabalham hoje no pedágio da Imigrantes. Michael Jackson, Duda Little, Garoto Juca.

Certo está o ditado que diz que “os últimos serão os primeiros”. Certos estamos eu e as crianças que jamais saberão as capitais dos países Bálticos.