Tuesday, October 31, 2006

GENTE, GENTE! UMA PAUSINHA PRO COFFEE BREAK.

O ser humano é vulnerável a coffee breaks.

Bastou ficar meia horinha prestando atenção num de terno cáqui falando sobre endomarketing pra já se ver obrigado a fazer uma paradinha estratégica para beliscar quitutes.

Mini pães de queijo são as primeiras iguarias a desaparecerem da cestinha. É como nas corridas de cães de Las Vegas, mas aqui, ganha quem largar das cadeiras privilegiadas da mesa.

Nem quando a ONU desce de helicóptero na África ou na Nicarágua a correria por comida é tão desorganizada e furiosa. Lá existe respeito por idosos, mulheres e crianças, etiqueta esta desconhecida no furor pós-palestras.

“Mas ele tem os pés pra fora”. Azar. Que coma o doce de figo, que sempre sobra.

Na lei barata do coffee break, vale tudo, menos devolver o que comeu pra mesa. Cotovelada, voadora e carrinho por trás estão liberados, desde que o norte da ação seja um sanduíche de metro com recheio cremoso ou um cookie gigante, com gotas de chocolate do tamanho da capital da Bélgica. Se for menos que isso o infrator será penalizado com dois minutos batendo papo no canto com o palestrante. Eu já passei por isso, e não recomendo.

- A lei de Strazenhauer que demonstrei no slide 378, minto, no 375, prova justamente o contrário do que você acaba de me perguntar, meu jovem.
- Éh, acho que perdi o foco enquanto explicava o slide anterior pro Plínio.- Qual?- Aquele do... do... do... Éh. Plínio! Chega aqui pra eu te apresentar o profess...- Professor-doutor.- Tá. Tá.

Numa outra ocasião, me peguei trocando cartões com a mocinha que comandava o slide show. Arrumando a papelada na carteira outro dia, achei ele. Tinha até o número do bip. Resolvi insultá-la, mas o número não existia mais.

Tomando alguns cuidados simples você consegue aproveitar o que a farta degustação gratuita oferece de melhor. Evite bolinhos salpicados com coco ou açúcar. Normalmente, o artifício de salpicar é usado para tirar o gosto de velho da massa, ou disfarçar imperfeições e queimaduras no ato de assar, igualzinho na picanha com alho servida em churrascarias rodízio.

Fora isso, ainda devemos nos manter atentos àqueles que a cada item mandado pra garganta, coloca outro num copinho de plástico, ou em papel toalha. Outro dia vi um grisalho de estatura média com o laptop na mão, e a pasta de couro recheada com folhados presunto e queijo. O homem foi revistado na saída e contratado logo em seguida para uma minissérie.

Existe também uma facção sempre presente nos coffee breaks que plantam boatos infundados visando denegrir algumas bandejas, e suas oferendas saborosas. “Diz que o folheado tá meio azedo”. Quando ninguém vê, enfiam de três em três na boca para não configurar flagrante.

Em caso de boca cheia com sonho e preocupação com um ataque inesperado e iminente aos croissants, não se desespere. Em primeiro lugar, apague acidentalmente as luzes. Em seguida, aproxime-se do retro-projetor e ligue. Pronto. Em fração de segundos, todos estarão sentadinhos, e você, com total liberdade para ir e vir.

Deu fome? Levante-se e pegue o que quiser. Não siga etiquetas ou protocolos. Agindo instintivamente você nunca fará errado, a não ser que seu instinto leve você a uma inútil troca de cartões.