Monday, August 24, 2009

VOA COLIBRI.

Andar de avião é uma das experiências mais ricas que conheço.

A emoção começa logo no check-in, com as filas intermináveis de retirantes fugindo da seca empurrando carrinhos atulhados de bagagem.

Quando chega a sua vez de ser atendido, sempre bate um medinho de ter dado alguma zica.

- Lamento Senhor, este vôo e o contrato do Nuno Leal Maia com a Globo foram cancelados.
- Cancelado? Eu comprei essa merda de bilhete há mais de 3 meses pra não ter problema. Já tô com hotel reservado, carro alugado, city tour pago.
- Brincadeirinha. (e faz um “toutch” com a atendente do guichê ao lado)
- Quê???
- Embarque às 21h50, portão 9. Boa viagem. Próximo!

É hora de adivinhar que adoráveis e pitorescos espécimes estarão no ar fazendo companhia para você: o barbudo de turbante? A tiazinha da ala das baianas? Ou o sósia do Rocky Dennis? Quem terá o prazer de sentar-se ao seu lado?

Antes do suspense chegar ao fim você deve acondicionar sua bagagem de mão, que no caso de 90% dos passageiros nunca é de mão, sobrando apenas uma fresta para você guardar sua mochila, e os bibelôs de bisqui que quebram mais fácil que polegar de boneco Comandos em Ação.

Você se senta à janela e a cadeira ao seu lado fica vaga. O embarque está praticamente encerrado. Como sempre, você comemora antes da hora. Chega correndo um último passageiro. Adivinha onde ele vai se sentar?

(todo esbaforido) - Boa noite... que trânsito, rapaz.
- É.
- Corri que nem doido mas graças a Deus consegui embarcar.
- Sorte a sua.
- Sorte mesmo seria se a minha cueca não estivesse uma sopa. (e ri de forma gostosa)

Eu tenho um ímã que atrai desgraçados e algodão de camiseta básica branca pra dentro do meu umbigo.

O avião nem bem saiu do lugar, já apertam aquele botãozinho que emite um estampido seco, chamando a atenção de uma das aeromoças, ou comissárias, como preferem.

- Pois não, senhor?
- Só testado... gracinha. (o “gracinha” ele fala mais baixo, para que apenas o colega de setor, que viaja na poltrona ao lado, possa ouvir e comentar depois na firma)

Na hora da aulinha sobre procedimentos de emergência fico imaginando um monte de gente se divertindo com os acentos flutuantes num domingo de sol no The Waves.

Com o avião estabilizado na rota, surge aquela voz espiritual. Nunca vi piloto de voz fina. Ele diz que o tempo tá mudando, que é um prazer tê-los abordo, que o quilo do rabanete tá um absurdo, e que nunca mais se viu reclame da Zorba na TV.

Passa o carinho da comida. Neguinho de gravata e MBA no estrangeiro se comporta pior do que refugiado em dia de vista da ONU.

- Lamento, senhor. É apenas um por passageiro.
- Por um acaso a senhorita sabe com quem está falando?
- Sei Francis, você faz CCAA comigo.
- Ah é.

Após algumas horas, incômodas turbulências, e gente esbarrando a bunda no seu cotovelo, caso você esteja na poltrona do corredor, o aeroplano aterrissa.

Na hora de pegar as malas, aquela disputa velada para ver quem será o primeiro a ser presenteado pela esteira. Após meia hora de fé e esperança, a esteira pára em definitivo.

- Boa noite, é... acho que minha bagagem não veio.
- Um momento, por favor, vou tentar localizá-la.
- Que merda, isso sempre acontece comigo.
- Pronto senhor. Localizei-a. Parece que foi despachada para a casa do Nuno Leal Maia.
- Quê???
- Brincadeirinha. Tá aqui ó. Bem-vindo e esperamos revê-lo em breve.