Monday, February 17, 2014

3 SÉRIES DE HAJA PACIÊNCIA.

Faço academia desde o final da puberdade e não me orgulho nem um pouco disso.

Tantos anos dedicados a malhação não me renderam músculos saltados, barriga negativa ou convites para pool parties. Por outro lado, acredito ter cultivado um dossiê bem do parrudo relacionado ao ecossistema da malhação.
 
- Bota peso aê, xará, tá fazendo fisioterapia? Ha... ha... ha...
(fortões riem pausadamente, controlando inspiração e expiração, enquanto mantém o abdômen tensionado)

Não importa o quanto você esteja ralando, sempre estará a anos luz dos reis e rainhas da maromba, com seus trajes fluorescentes e regatas indecentes.

- Espelho, espelho meu, existe algum trapézio mais lindo do que o meu?
- Sim, Jaime, o do Betão. Vai ter que tomar mais whey e caprichar na supersérie.
- Sério, man?

- Sério! E para de me chamar de man que eu sou apenas um espelho respingado.

Se tirassem os espelhos das academias, 99% dos escultores de bíceps, tríceps e quadríceps abandonariam os treinos, sem o menor arrependimento.

- Posso revezar, man?
- Claro, desde que antes tome uma boa ducha e coloque uma blusa com mangas.

Pode ver. Você monta o aparelho, ajusta o banco, o encosto do peito, faz um tremendo esforço para colocar as anilhas, senta para começar a primeira série e eis que alguém, de regata estilo frente única e suor abundante, pede para revezar.

Pior do que isso só a desagradável sensação de ser observado e avaliado bem no meio de um exercício de posterior de coxa, daqueles em que a bunda, do latim, glútiuns molengalyuns, fica vulnerável, visível para todos no raio de um quarteirão.
 
- Olha a postura.
- Não consigo. Tô focando em me manter vivo.
- Cotovelo pra dentro.
- Isso não é um exercício pra perna?
- Inspira pelo nariz, expira pela boca.
- Não diga!
- Contrai o abdômen como se o umbigo quisesse chegar nas costas.
- Cara, que tipo de ser humano fala uma coisa dessas?

Instrutores conseguem ser mais repetitivos do que os filmes com cachorros na Sessão da Tarde. Isso quando estão disponíveis para te ajudar. A fila preferencial do atendimento é encabeçada por coxudas de polainas, falsas magras de shortinho e desquitadas de collant inteiriço, que lembram vagamente aqualoucos querendo sensualizar.

Na hora do aeróbico, nova sequência de ajustes se faz necessário: quanto pesa, quanto mede, quanto pretende correr, qual é o PIB da Lituânia e por ai vai. Meia hora pra configurar a máquina X 10 minutos pra derreter como um polonês no banco de trás de um bugue em Natal. Esteiras, bicicletas e afins funcionam como um George Foreman Grill, só que sem o coletor de gordura.

- Viu? 400 ml de toxinas em apenas 20 minutos.
- Pelo amor de Deus, joga isso fora.

Como por mágica, o chão emborrachado logo abaixo dos seus pés começa a se mover. Ou você corre, ou estabaca de forma vexatória. Já num leve trote, percebe que o vizinho(a) de esteira aumentou a velocidade. Você não quer ficar para trás, quer campeão? Pois é. Seu espírito competitivo faz a vista ficar turva e você quase solicitar a entrada da maca. Hashtag “vergonha 5k”.

- Inspira pelo nariz, solta pela boca.
- Cala essa boca!

Por fim, uma torturante sessão de alongamento, só pra “soltar” a musculatura. Prefiro fazer a declaração completa do IR a um alongamento como manda o figurino.

- Olha a postura, man!
- Foda-se a postura, tô indo comer bacon.
- Nossa, que bavesa!

Haja paciência.