Thursday, January 21, 2010

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE. AMÉM!

Casamento é o típico festejo onde um piscar de olhos faz você perder aquela que será a grande manchete do dia seguinte.

“Volovan de camarão entala tia Nancy e acaba com clima amistoso”.
“Tio Damião cai sobre o joelho da noiva e adia lua de mel por tempo indeterminado”.
“Padre Camilo esquece o salmo, pega no sono e cerimônia termina com atraso de 40 minutos”.

Aliás, o atraso está sempre presente nos casamentos, ainda mais naqueles matrimônios seqüenciais. Tão logo os noivos e padrinhos atravessam o salão, dobermans bentos partem da sacristia enfurecidos fazendo com que os convidados saiam em tempo recorde, deixando vagos os lugares para o próximo casamento.

- (nome do noivo) e (nome da noiva), viestes aqui para celebrar o vosso Matrimônio. É de vossa livre vontade e de todo o coração que pretendeis fazê-lo?
- Sim.
- Sim. Não. Na verdade, se olharem para o mezanino da igreja, verão um homem com uma meia calça enfiada no rosto, apontando uma arma para minha cabeça.

- Estais dispostos a receber amorosamente os filhos como dom de Deus e a educá-los segundo a lei de Cristo e da Santa Igreja?
- Sim.
- Mas ela é frígida, vossa santidade!

A hora do “sim” é praticamente uma gincana de palco, com auditório em trajes sociais e mestre de cerimônias eclesiástico, tudo supervisionado pelo divino, lá de cima.

- Eu, (nome do noivo), PIM... Recebo-te (nome da noiva) por minha esposa, PIM... E prometo ser-te fiel, PIM... Amar-te e respeitar-te, PIM... Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, PIM.
Péééé (padre) – Perdeu playboy.

Com grande rodagem em cerimônias desse tipo, minha maior frustração é o fato de nunca ter presenciado um “se tem alguém que sabe de algum motivo que pode impedir esta união, que fale agora ou cale-se para sempre”. Acho muito bonito.

E a chuva de arroz, meu Deus do céu? Se um grão pega na vista de um dos pombinhos, adeus comes e bebes de graça.

Finalizada a parte sacra, é hora da profana. A corrida pelas melhores mesas do salão evidencia brigas veladas entre o time do laquê Karina e os parentes do interior.

Depois do processo de empanturramento, um jovem cheio de energia decide tirar o paletó, dobrar as mangas e partir pra guerra. É chegada a hora do choque de gerações na pista. Pais e mães, tios e avós, turma do iê iê iê e do créééu. O emborrachamento do salão começa ao som de “New York, New York”, mas vira abruptamente para a chamada “viagem pelos anos 70”.

- Não é a sua mãe ali, descendo até o chão?
- Puts, é. E aquele ali girando um tamborim imaginário? Não é o seu velho?
- Não. Meu velho é aquele ali, passando por debaixo da cordinha.

A vergonha só não é maior graças aos utensílios distribuídos durante a celebração. Acredito que óculos coloridos, máscaras, bóia de braço, pisca-piscas e afins têm o poder de nos dar, pelo menos momentaneamente, o dom da invisibilidade. E aí, vale tudo.

- Mas a Zezé não operou a cabeça do fêmur?
- Pois é. Imagina se estivesse boa.

A noiva vai jogar o buquê. Duas ameaçadas antes do arremesso final – truque aprendido na página 143 da apostila do curso de noivas do SENAC, campus Scipião. Murro na cara e belisquinho na gordura localizada correm solto no segundo pelotão, onde os fotógrafos não ousam entrar. Lá encontramos as amigas do ginásio, a turma do Fisk e as dançarinas da academia de Nilópolis.

Na hora de ir embora, é claro, o ataque soviético aos bem casados.

- Senhora, são apenas 2 por convidado.
- E por um acaso você sabe quem eu sou?
- Com essa máscara fica difícil adivinhar, senhora.

A noite termina com o segurança esfregando os olhos, fruto de uma caprichada borrifada de laquê Karina, enquanto a tia, já sem sapato, dá o braço a um jovem rapaz (primeiro a tirar o paletó na festa), que a essa hora lamenta imensamente o fato de ter se precipitado e se atracado justamente com a sortuda que pegou o buquê.

Taaan...taaan... tarã-rã-rã-rã-rãããn... tan...tarã-rã-rã-rããn...rã-rãn...

Tuesday, January 05, 2010

LOMBARDI, DESCULPE A DEMORA.

Como todos infelizmente sabem, o querido dono da voz mais misteriosa do país descansou.

... Não gosto de começar frases com reticências, mas gosto menos ainda de saber que nossos domingos à tarde e nossas vidas de telespectador não terão mais a voz do querido locutor Luiz Lombardi Neto.

- O Lombardi fala ou não fala?
(auditório a plenos pulmões) – Faaalaaa!!!
- Oooiii Siiilviiiooo!!!

Lombardi sempre foi daquelas pessoas bem humoradas em tempo integral, espécime raríssimo de se encontrar hoje em dia.

Ao longo de sua carreira foram mais de 40 anos dedicados ao Silvio. Ele era simplesmente o mais antigo colega de trabalho do dono e apresentador do SBT.

- Tênis Montreal, porque você é joooveeem!
(palmas do auditório)

Aliás, a maioria das vezes em que ouvimos sua voz na TV, sempre ouvimos também aplausos efusivos do auditório logo na sequência, reflexo imediato ao poder que sua voz tinha.

Amo também o Cid Moreira, mas esse conhecemos desde sempre a fisionomia, a cor do cabelo, o jeitão da boca, a altura da sobrancelha quando fala. Lombardi é conhecido pela voz e isso sempre lhe bastou.

Pra mim, merecia também ter gravado a Bíblia em CD.

(tema animado de abertura do Topa Tudo por Dinheiro)
- Daqui a poooucooo, Silvio Santos se diverte com os convidados no palco. Nas ruas Ivo Holanda apronta as maiores confusões nas pegadinhas.

O mistério em torno do homem por trás da voz rendeu tanto ou mais dinheiro do que o próprio carnê do Baú ao também eterno patrão, chamado assim por todos da emissora, mas não por ele. Lombardi sempre gozou de intimidade.

- Oooi Siiilviooo!!!
(mais palmas do auditório)

Obrigado Lombardi por ser, por tantos anos, a voz alegre dos nossos domingos.

Numa comparação justíssima, pelo menos para mim, o som de sua voz teve sempre o efeito antônimo à odiada musiquinha tema do Fantástico. “É Fantástico!”

- De hora em hora o SBT informa o resultado parcial da Tele Sena de Paaais: uuum, dois, quinze, dezesseis, vinte e oito, trinta e três (para deleite dos doutores), quarenta e uuum (meu apê), quarenta e dois, quarenta e quatro, quarenta e cinco e ciiinqueeentaaa! (o número que eu mais gostava de ouvir ele anunciando).

Lombardi, sentiremos sua falta. Milhões, sim, milhões de brasileiros.

Neguei-me a descobrir sua face no dia de tua despedida. Seria um grande desrespeito a sua pessoa. Uma pena a imprensa não ter pensado assim. A única imagem que vi de sua despedida, trazia uma belíssima bandeira do verdão sobre o caixão, dando a mim uma valiosíssima informação que nunca de fato soubera, e que me tornou ainda mais fã de você.

Por isso tudo, em nossas memórias e claro, no YouTube, sua voz viverá entre nós para sempre.

- Tchaaauuu, Siiilviiiooo...