Friday, February 11, 2011

TEM REPETENTE NA SALA.

Com a festa da volta as aulas contagiando o país, me vem à cabeça a lembrança de uma figura controversa, polêmica, temida, admirada, que tornava a estadia na prisão murada escolar um pouco mais divertida.

Estou falando do repetente, aquela criatura que, por razões variadas, viu-se obrigado a cursar novamente uma ou mais séries.

- Então, nos encontramos novamente. Não disse que isso aconteceria?
- Corta essa, pai.
- Na minha sala não tem essa de pai nem mãe. Sou seu professor, seu mestre.
- Dos piores, diga-se de passagem.
- Moleque vadio, sem rumo. Não respeita o próprio pai!
- Achei que aqui não tivesse essa de pai nem mãe.

Não tive a honra de sentir o gostinho do repeteco curricular, o que não me valeu carro do ano aos 18, mas ao menos me poupou boa dose de cintadas na lomba.

Na minha opinião, um pouco romanceada, diga-se de passagem, o repetente é um enviado do futuro, alguém que já esteve lá, que conhece as respostas, os atalhos, que já viveu tudo aquilo e que, por isso, tem a nobre missão de compartilhar seu conhecimento com os outros, tornando o presente menos doloroso.

- Oiê, eu sou a Carlinha. Você é novo aqui?
- Não exatamente. Vim do futuro e trago respostas.
- Uau! Sabe me dizer se continuo sofrendo bullying até o fim do ano?
- Feinha desse jeito e acreditando em viajantes do tempo? Com certeza vai.

Ou ainda:

- Doutor, doutor! Não posso repetir o primeiro colegial. O senhor precisa me mandar de volta para o futuro.
- Lamento, Marty, dessa vez não vai dar. O DeLorean foi reprovado outra uma vez na inspeção veicular.
- Maldito Kassab.

A diferença no corpo de um estudante de 13 para um de 14, fica escancarada na famosa aula de educação física de “peso e medida”.

Repetentes são adultos travestidos de crianças.

- Meu, na boa, é impossível. O moleque tá na segunda série e já tem pêlo no peito?
- É que é filho do Humberto Martins.
- Sei. E cadê o furinho no queixo?
- Perdeu o direito de usar depois de repetir o pré pela segunda vez.

Pois é, mas graças a prefeitura e seu “brilhante” sistema de aprovação automática, esse importante indivíduo está praticamente extinto, pondo em risco importantes estágios do amadurecimento juvenil.

Lembro de quase ter começado a fumar e a usar pochete virada para trás por influência de um deles.

- Que é isso, Caduzinho, apaga essa merda! Você só tem 11 anos.
- E daí? Você sempre fala que começou aos 9.
- Eram tempos difíceis, meu filho.
- Difíceis? Difícil é ter 11 anos, repetir a quarta série, ter peitinhos de menina e ainda por cima ser filho do Oswaldo Montenegro.

E se por um lado são mais fortes, mais altos, mais vividos, por outro são verdadeiros reféns de um “Vale a pena ver de novo” que ao invés de “Os Goonies” e “Te pego lá fora” reprisa fórmulas, sonetos e conflitos nos Bálcãs.

Por isso, jovem, pra não riscar o disco num ano não tão dourado da sua vida, deixa de vagabundagem, sai do Orkut, pára de ouvir Restart e sobe estudar.

Educação. A gente vê por aqui.