Monday, December 03, 2007

MEIA MARATONA DE COISA NENHUMA.

E não é que de uns tempos pra cá todo mundo deu pra correr? Tá na moda, super in.

Nike 10k; Maratona do Pão de Açúcar; Mini-maratona da Goiabada Alazan; Pocket Corrida Pela Inclusão da Nicarágua no Tabuleiro do WAR.

Dito isso, todo mundo sai às ruas, de shortinhos e tênis cheio de molas, desses que pedem a abertura de um crediário para pagar, esbanjando vigor nas canelas e um ar de queniano, quase etíope.

- Eu? Sempre corri.

- Correu nada, Abreu.
- Sério, ontem mesmo mandei 7 quilômetros.
- Não diga.
- Seiscentinhas a menos. (e alisa a pança de taxista)

Seiscentas calorias para fora e meia portuguesa, meia catupiry com bacon na janta. Tá bom que eu também já me aventurei no monótono desafio das esteiras, mas nem por isso comprei camiseta com os dizeres “corro, logo existo” e “Run Forrest” ou postei anuncio em classificado: “procuro turminha batuta para formação de grupo de corrida no Largo Treze”.

Se você é dos que corre, ótimo, mas guarde pra você. Ninguém que pratica esgrima sai por aí espalhando que maneja um florete. Seja discreto. Se esse papo de resistência, inclinação e passada realmente funcionar, pode ser que você tenha uma vida longa, talvez até, maior do que a minha, com coxas torneadas, panturrilhas radiantes, e aquele odor característico dos atletas de ponta. Mas se aparecer bufando, numa calçada estreita, logo atrás de mim, não dou passagem de jeito nenhum.

- Quer ver o meu Polar novo?
- Óbvio que não.

Pra mim, esses aparelhos de medir o coração só deveriam ser liberados para pediatras do SUS, com seus estetoscópios geladinhos, e para esses programas de disputas entre casais, onde o maridão é submetido a um striptease, e seus batimentos aparecem no canto inferior da tela.

Corrida pela Volta dos Amanteigados; Revezamento 12k Condomínio Varandas do Sul; Maratoneca do Clube da Tranca.

Como o negócio popularizou, agora, semana sim, semana sim, tem alguma provinha, valendo medalha de honra ao mérito, todo mundo tem chance, todo mundo “vive treinando”. Uma simples ida à padaria pode representar uma árdua prova de desviar de coloridas divorciadas, ensurdecidas por seus tocadores MP3, ou de jovens senhoures (com “u” mesmo) com shorts mínimos que revelam a inexistência de pêlos próximos a verilha (com “e” mesmo). Eles trotam alegremente para cima de você, sendo apenas contidos pelo fluxo automotivo das ruas, ainda assim, saltitando no lugar para não esfriar.

- Mãe, posso correr com o tio César?
- Filho, vem cá. Como posso explicar... é.... bem... o polar do tio César, parou de pulsar ontem à noite....

A vida nas pistas pode ser dolorosa. Câimbras, torções, trombadas, tombos, fisgadas, distensões, cotoveladas, dedo no olho. Vai dizer que você acha que existe fair play no meio do pelotão onde a TV não filma?

Legal era aquela corrida anual de garçons, aquela que o Mauricio Kubrusly cobria. Chato deve ser falar Kubrusly enquanto você sobe a Brigadeiro.

Se você não concorda com nada disso, recomendo que assista atentamente à próxima São Silvestre para ver se a gente realmente tem todo esse DNA de corredor. Se um queniano de nome complicado ou um etíope ganhar, ponto pra mim. Se algum dos brasileiros, metidos a “runners”, de fralda e chupetão, cruzar em primeiro, volto pra esteira.