MEIA MARATONA DE COISA NENHUMA.
E não é que de uns tempos pra cá todo mundo deu pra correr? Tá na moda, super in.
Nike 10k; Maratona do Pão de Açúcar; Mini-maratona da Goiabada Alazan; Pocket Corrida Pela Inclusão da Nicarágua no Tabuleiro do WAR.
Dito isso, todo mundo sai às ruas, de shortinhos e tênis cheio de molas, desses que pedem a abertura de um crediário para pagar, esbanjando vigor nas canelas e um ar de queniano, quase etíope.
- Eu? Sempre corri.
- Correu nada, Abreu.
- Sério, ontem mesmo mandei 7 quilômetros.
- Não diga.
- Seiscentinhas a menos. (e alisa a pança de taxista)
Seiscentas calorias para fora e meia portuguesa, meia catupiry com bacon na janta. Tá bom que eu também já me aventurei no monótono desafio das esteiras, mas nem por isso comprei camiseta com os dizeres “corro, logo existo” e “Run Forrest” ou postei anuncio em classificado: “procuro turminha batuta para formação de grupo de corrida no Largo Treze”.
Se você é dos que corre, ótimo, mas guarde pra você. Ninguém que pratica esgrima sai por aí espalhando que maneja um florete. Seja discreto. Se esse papo de resistência, inclinação e passada realmente funcionar, pode ser que você tenha uma vida longa, talvez até, maior do que a minha, com coxas torneadas, panturrilhas radiantes, e aquele odor característico dos atletas de ponta. Mas se aparecer bufando, numa calçada estreita, logo atrás de mim, não dou passagem de jeito nenhum.
- Quer ver o meu Polar novo?
- Óbvio que não.
Pra mim, esses aparelhos de medir o coração só deveriam ser liberados para pediatras do SUS, com seus estetoscópios geladinhos, e para esses programas de disputas entre casais, onde o maridão é submetido a um striptease, e seus batimentos aparecem no canto inferior da tela.
Corrida pela Volta dos Amanteigados; Revezamento 12k Condomínio Varandas do Sul; Maratoneca do Clube da Tranca.
Como o negócio popularizou, agora, semana sim, semana sim, tem alguma provinha, valendo medalha de honra ao mérito, todo mundo tem chance, todo mundo “vive treinando”. Uma simples ida à padaria pode representar uma árdua prova de desviar de coloridas divorciadas, ensurdecidas por seus tocadores MP3, ou de jovens senhoures (com “u” mesmo) com shorts mínimos que revelam a inexistência de pêlos próximos a verilha (com “e” mesmo). Eles trotam alegremente para cima de você, sendo apenas contidos pelo fluxo automotivo das ruas, ainda assim, saltitando no lugar para não esfriar.
- Mãe, posso correr com o tio César?
- Filho, vem cá. Como posso explicar... é.... bem... o polar do tio César, parou de pulsar ontem à noite....
A vida nas pistas pode ser dolorosa. Câimbras, torções, trombadas, tombos, fisgadas, distensões, cotoveladas, dedo no olho. Vai dizer que você acha que existe fair play no meio do pelotão onde a TV não filma?
Legal era aquela corrida anual de garçons, aquela que o Mauricio Kubrusly cobria. Chato deve ser falar Kubrusly enquanto você sobe a Brigadeiro.
Se você não concorda com nada disso, recomendo que assista atentamente à próxima São Silvestre para ver se a gente realmente tem todo esse DNA de corredor. Se um queniano de nome complicado ou um etíope ganhar, ponto pra mim. Se algum dos brasileiros, metidos a “runners”, de fralda e chupetão, cruzar em primeiro, volto pra esteira.
Nike 10k; Maratona do Pão de Açúcar; Mini-maratona da Goiabada Alazan; Pocket Corrida Pela Inclusão da Nicarágua no Tabuleiro do WAR.
Dito isso, todo mundo sai às ruas, de shortinhos e tênis cheio de molas, desses que pedem a abertura de um crediário para pagar, esbanjando vigor nas canelas e um ar de queniano, quase etíope.
- Eu? Sempre corri.
- Correu nada, Abreu.
- Sério, ontem mesmo mandei 7 quilômetros.
- Não diga.
- Seiscentinhas a menos. (e alisa a pança de taxista)
Seiscentas calorias para fora e meia portuguesa, meia catupiry com bacon na janta. Tá bom que eu também já me aventurei no monótono desafio das esteiras, mas nem por isso comprei camiseta com os dizeres “corro, logo existo” e “Run Forrest” ou postei anuncio em classificado: “procuro turminha batuta para formação de grupo de corrida no Largo Treze”.
Se você é dos que corre, ótimo, mas guarde pra você. Ninguém que pratica esgrima sai por aí espalhando que maneja um florete. Seja discreto. Se esse papo de resistência, inclinação e passada realmente funcionar, pode ser que você tenha uma vida longa, talvez até, maior do que a minha, com coxas torneadas, panturrilhas radiantes, e aquele odor característico dos atletas de ponta. Mas se aparecer bufando, numa calçada estreita, logo atrás de mim, não dou passagem de jeito nenhum.
- Quer ver o meu Polar novo?
- Óbvio que não.
Pra mim, esses aparelhos de medir o coração só deveriam ser liberados para pediatras do SUS, com seus estetoscópios geladinhos, e para esses programas de disputas entre casais, onde o maridão é submetido a um striptease, e seus batimentos aparecem no canto inferior da tela.
Corrida pela Volta dos Amanteigados; Revezamento 12k Condomínio Varandas do Sul; Maratoneca do Clube da Tranca.
Como o negócio popularizou, agora, semana sim, semana sim, tem alguma provinha, valendo medalha de honra ao mérito, todo mundo tem chance, todo mundo “vive treinando”. Uma simples ida à padaria pode representar uma árdua prova de desviar de coloridas divorciadas, ensurdecidas por seus tocadores MP3, ou de jovens senhoures (com “u” mesmo) com shorts mínimos que revelam a inexistência de pêlos próximos a verilha (com “e” mesmo). Eles trotam alegremente para cima de você, sendo apenas contidos pelo fluxo automotivo das ruas, ainda assim, saltitando no lugar para não esfriar.
- Mãe, posso correr com o tio César?
- Filho, vem cá. Como posso explicar... é.... bem... o polar do tio César, parou de pulsar ontem à noite....
A vida nas pistas pode ser dolorosa. Câimbras, torções, trombadas, tombos, fisgadas, distensões, cotoveladas, dedo no olho. Vai dizer que você acha que existe fair play no meio do pelotão onde a TV não filma?
Legal era aquela corrida anual de garçons, aquela que o Mauricio Kubrusly cobria. Chato deve ser falar Kubrusly enquanto você sobe a Brigadeiro.
Se você não concorda com nada disso, recomendo que assista atentamente à próxima São Silvestre para ver se a gente realmente tem todo esse DNA de corredor. Se um queniano de nome complicado ou um etíope ganhar, ponto pra mim. Se algum dos brasileiros, metidos a “runners”, de fralda e chupetão, cruzar em primeiro, volto pra esteira.
posted by Abdalla at 9:53 AM
12 Comments:
Tirou as palavras da minha boca!
O marido da minha prima resolveu aderir à corrida, e outro dia recusou tomar vinho numa sexta à noite porque tinha maratona no dia seguinte. E olha que ele é chileno!
Depois acorda divorciado e não sabe porquê...
Correr é coisa de viado. Quer fazer esporte, vai jogar bola, porra!!
Rs
Polinesio
(www.polinesio.zip.net)
Eu sou maratonista...se te encontrar na rua dou-lhe uma ultrapassada que vais perder o rumo da linha de chegada.
E o padre?
http://www.youtube.com/watch?v=0roYKrf6HKk
po..magoou hein
nivea
Cara... Você é meu ídolo.
Da verborragia hilária que me deixa no ponto do xixi às porradas que você dá nessa sociedade estilo "sabe com que você tá falando?"
Os seus textos são tão pictóricos que eu vejo nitidamente o Bastos e o Alencar passando um pelo outro no Ibirapuera durante o jogging com aquele "oi" cúmplice como se fizessem parte do Clube da Luta.
Eu releio esse texto da seguinte forma: Fazer exercícios deixou de ser uma demanda médica para ser uma demanda da sociedade. "Ah, gordinho... Se te pego, te jogo numa academia. Vai fazer abdominal até queimar esse toucinho todo."
Essa é a voz silenciosa que assombra os ouvidos de cidadãos de todas as classes adiposas frente a essa sociedade cada vez mais gente fina.
Mas o recado inegável é que não fazer exercício algum merece uma questionada das boas. Vou imprimir esse texto pra lembrar eu mesmo disso, mas deixo pra começar a malhar na segunda depois da novela.
Smalla'Alik
This comment has been removed by the author.
É bem mais facil fazer críticas sem fundamentos do que correr se quer 100 mts. Aliás abdominal não queima toucinho...viu
Que cara mais infeliz! Por ainda não ter achado alguma coisa que realmente lhe dê prazer, fica criticando e escrevendo bobagens.
Se não gosta: Não faça! E Não critique!
Correr... uma das melhores coisas pra se fazer com roupa. Pena de quem ainda não descobriu isso...
Sou maratonista, e sinceramente, adorei o texto. Eu acho ridículo corredor bitolado falando de corrida com quem não corre. E eu já fiz muito isso quando era iniciante. Incentivar prática esportiva é diferente de intolerância com o não praticante. Hoje, adoro discutir sobre corridas entre a minha paenlinha de "Maniacos por maratonas", mas acho de tremenda arrogância, quando algum iniciante (quem não tem nem 3 anos de prática contínua na vida) vem, e acha que é obrigação de um leigo em corridas saber que São Silvestre (de 15 km), não é uma Maratona (prova de 42,195 Km, pela definição atual). Cá entre nós, antes um caminhante regular (não vou defender sedentarismo total) que bebe suas cervejas de vez em quando e é bem humorado, do que um corredor estressado com a vida (tem muitos por aí). Felizmente, consigo ser corredor sem ser mal humorado... eu acho, rsrs
Abraço!!
Concordo com o Hideaki, e também com você (ao menos que você pense assim de TODOS que correm...). E acho preconceito você pensar que nenhum brasileiro teria chance de vencer as grandes competições #fail
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