EU ADORO GANHAR BRINDE.

Se tem uma coisa que agrada geral, essa coisa é chamada brinde.

A fórmula é simples: pegue todas as coisas que ninguém precisa e dê a elas uma cara promocional. Monte uma barraquinha e coloque a frase “é de graça” em algum lugar. Viva. Na lógica da distribuição, só perde quem não estiver no lugar certo na hora certa.

Felizes daqueles que já se disfarçaram para ganhar mais uma prenda, ou que justificaram para o promotor que gostariam muito de levar apenas mais unzinho para um pobre amigo internado.

Sábado passado, comprei 3 caixas de cerveja. Após pagar, já me dirigindo para a saída, ouço a caixa me chamar. “Droga. Deve ter dado falha no cartão. Inferno. Acho que viu o DVD, ao vivo, do Fabio Junior, embaixo da minha camisa”.

- Senhor, o senhor tem direito a 3 copos, senhor.
- Como?
- Cada caixa de cerveja dá direito a um copo personalizado, senhor.
- Mentira.
- Verdade, senhor.

O dia está feio. Tudo dá errado. Você encontra sua professora de artes plásticas do primário. A bateria acaba, no meio da mudança de plano, após mais de vinte minutos ouvindo gerúndio da boca da garota da operadora, que fala assoviando. Até que a sorte vira-se para o seu lado (ela costuma dormir virada para a parede).

Brindes são como iscas. Sinto-me um atum nadando em águas atlânticas, seguindo algo luminoso e com pequenos ganchinhos, logo a minha frente.

- Eu quero. Onde pega? Tem mais? O que precisa comprar?

Não importa o que seja: viseira. Amolador de facas. Camiseta, 3 números menor. As pontas do pão de forma. Um filtro de barro.

Brinde é brinde. Pelo menos alguém no mundo te dá algo. Eu mereci isso. Era tudo o que eu precisava. É como receber a chave de uma cidade. Você não sabe para que vai usar, mas guarda com carinho.

E daí que tem o nome do patrocinador? E daí que não se usa mais pochete? Qual é a vergonha de usar a nécessaire com o nome de um absorvente famoso? É brinde meu amigo, e eu sei que você também gosta.

Se eu disser que ao final do texto você encontrará a senha para retirar um brinde, grandes chances de você realmente ir até o fim. Mesmo que eu coloque um telefone qualquer, como 0800999999, eu sei que você vai ligar. Vai que ganha alguma coisa.

Enquanto empresas de comunicação gastam milhões, ou melhor, rasgam cheques de milhões pedindo aos gênios criativos que criem novos conceitos, outros gênios visionários distribuem brindes aleatórios, como luvas de fogão com a estampa da empresa, e caem nas graças do consumidor. Arrá!

A receita é simples e eficiente. Brindes mandam no mundo assim como o Rei de Paus manda no Valete de Paus dentro da caixinha de baralho, estampada com a logomarca de uma firma de engenharia por fora.

Políticos, lanchonetes, escolas, palestrantes, todos utilizam-se do efeito brinde para conseguirem seus objetivos. Você já fez isso quando era pequeno e nem percebeu, ou você acha que seus “amiguinhos” do maternal realmente te amavam de paixão? Todos vieram por causa das lembrancinhas. Quem era, por exemplo, aquele de macacão jeans e cabelo enroladinho chorando perto da bandeja de beijinhos? Por acaso ele divide apartamento com você? Claro que não. Só foi pelo brinde (talvez para também ver um animador magro, vestido de super-homem).

- É de graça? Onde pega? Tem mais?

Somos vulneráveis, muito vulneráveis. Nos vendemos por pouco. Uma prostituição velada, sem a necessidade do nu explícito. Eu não me envergonho.

Nunca aceite nada de estranhos. Tá. Tá.