QUEM É O CARA DO TIRA-TEIMA?
Pessoas vêm ao mundo com diferentes propósitos: catalogar insetos, rechear almofadas, escrever horóscopo, vender artesanato, juntar os calcanhares no ar num só pulo.
Poucas delas conseguem se tornar relevantes para o mundo onde vivem. É o caso dos desenhistas de unicórnios para carrosséis, dos anões de língua presa e do profissional por trás do tira-teima.
Você já parou para pensar na importância desse último em nossas vidas?
É ele quem alimenta discussões baseadas em planos verticais, horizontais, e bonecos 3D com giros de até 360º. Um traço-mágico de discórdia e justiça geométrica.
Bola em profundidade. O time da casa ganha por um a zero. O lance é duvidoso e o time de uniforme estranho empata o jogo, na maior polêmica do fim de semana.
No momento do lançamento ninguém viu a propaganda que apareceu no canto superior da tela. Azar. Olhos atentos viajam com a bola, o domínio, a arrancada final, a finta de quadril no goleiro, um som oco de caramujo na orelha, a conclusão para as redes.
O mundo se divide. O casal tira as alianças, os amigos de infância tocam em feridas do passado, primos irmãos decidem não participar do amigo secreto de fim de ano. Isso tudo até o oráculo da justiça entrar em cena. Protestos dão lugar ao silêncio constrangedor da coerência absoluta. É inapelável.
O casal, os amigos, os primos, o mundo se conforma com o veredicto preciso, milimétrico, tecnológico. Unanimidades são raras hoje em dia.
E se o cara do tira-teima aparecesse no show do intervalo? Que cara teria? Seria ele grisalho, magro e sorridente? Usaria calça de sarja e pólo para dentro? Talvez.
Ninguém sabe o nome dele, seus gostos, preferências, promessas para o ano novo. O que sonhava ser quando crescer? Pra que time torce? Será que gosta mesmo de futebol? Fala seis ou meia-dúzia? E se ele for ela? Sobre isso, Dan Brown não escreve livros, né.
O tira-teima é sub-aproveitado. Com ele acidentes de trânsito diminuiriam. Água no umbigo, sinal de perigo. O tira-teima revelaria no ato se a posição dentro da água fosse irregular. Até o sexo entraria nos eixos (vertical e horizontal com linhas coloridas). “No momento da enfiada o atacante estava um pouco adiantado”. Impedimento. Volta o lance.
O país do futebol exportaria a solução para sanar dúvidas geopolíticas mundiais. A regra é clara. “No momento da tempestade de areia o nariz do beduíno estava doze centímetros em território israelense”. Ou também: “A defesa palestina recuou em massa, deixando o premiê em posição duvidosa”. As infrações seriam detectadas no momento preciso, assim que acontecessem, não deixando espaço para discussões posteriores.
Pense nas melhorias. O tira-teima devolveria a dignidade perdida das torneiras. “O elástico esgarçado da calcinha estava em posição irregular cobrindo o azulejo”. Multas seriam revogadas. Marronzinhos seriam substituídos por bandeirinhas dos quadros da Fifa. Frases como “você passou dos limites” só poderiam ser utilizadas sob o olhar criterioso deste profissional único.
Já no campo político, onde por aqui, o presidente é o último a saber de tudo, a inversão de valores seria significativa. O rapaz do tira-teima, em algum cargo ministerial, traria as informações privilegiadas em primeira mão para serem debatidas no planalto. Movimentações irregulares seriam detectadas com exatidão.
Diretas já. O cara do tira-teima assume a presidência, amplia nossos horizontes em centímetros preciosos, faz uma reforma profunda, põe o país literalmente na linha, e nós, bem, nós somos substituídos por bonecos 3D que giram até 360º. Eu topo.
Poucas delas conseguem se tornar relevantes para o mundo onde vivem. É o caso dos desenhistas de unicórnios para carrosséis, dos anões de língua presa e do profissional por trás do tira-teima.
Você já parou para pensar na importância desse último em nossas vidas?
É ele quem alimenta discussões baseadas em planos verticais, horizontais, e bonecos 3D com giros de até 360º. Um traço-mágico de discórdia e justiça geométrica.
Bola em profundidade. O time da casa ganha por um a zero. O lance é duvidoso e o time de uniforme estranho empata o jogo, na maior polêmica do fim de semana.
No momento do lançamento ninguém viu a propaganda que apareceu no canto superior da tela. Azar. Olhos atentos viajam com a bola, o domínio, a arrancada final, a finta de quadril no goleiro, um som oco de caramujo na orelha, a conclusão para as redes.
O mundo se divide. O casal tira as alianças, os amigos de infância tocam em feridas do passado, primos irmãos decidem não participar do amigo secreto de fim de ano. Isso tudo até o oráculo da justiça entrar em cena. Protestos dão lugar ao silêncio constrangedor da coerência absoluta. É inapelável.
O casal, os amigos, os primos, o mundo se conforma com o veredicto preciso, milimétrico, tecnológico. Unanimidades são raras hoje em dia.
E se o cara do tira-teima aparecesse no show do intervalo? Que cara teria? Seria ele grisalho, magro e sorridente? Usaria calça de sarja e pólo para dentro? Talvez.
Ninguém sabe o nome dele, seus gostos, preferências, promessas para o ano novo. O que sonhava ser quando crescer? Pra que time torce? Será que gosta mesmo de futebol? Fala seis ou meia-dúzia? E se ele for ela? Sobre isso, Dan Brown não escreve livros, né.
O tira-teima é sub-aproveitado. Com ele acidentes de trânsito diminuiriam. Água no umbigo, sinal de perigo. O tira-teima revelaria no ato se a posição dentro da água fosse irregular. Até o sexo entraria nos eixos (vertical e horizontal com linhas coloridas). “No momento da enfiada o atacante estava um pouco adiantado”. Impedimento. Volta o lance.
O país do futebol exportaria a solução para sanar dúvidas geopolíticas mundiais. A regra é clara. “No momento da tempestade de areia o nariz do beduíno estava doze centímetros em território israelense”. Ou também: “A defesa palestina recuou em massa, deixando o premiê em posição duvidosa”. As infrações seriam detectadas no momento preciso, assim que acontecessem, não deixando espaço para discussões posteriores.
Pense nas melhorias. O tira-teima devolveria a dignidade perdida das torneiras. “O elástico esgarçado da calcinha estava em posição irregular cobrindo o azulejo”. Multas seriam revogadas. Marronzinhos seriam substituídos por bandeirinhas dos quadros da Fifa. Frases como “você passou dos limites” só poderiam ser utilizadas sob o olhar criterioso deste profissional único.
Já no campo político, onde por aqui, o presidente é o último a saber de tudo, a inversão de valores seria significativa. O rapaz do tira-teima, em algum cargo ministerial, traria as informações privilegiadas em primeira mão para serem debatidas no planalto. Movimentações irregulares seriam detectadas com exatidão.
Diretas já. O cara do tira-teima assume a presidência, amplia nossos horizontes em centímetros preciosos, faz uma reforma profunda, põe o país literalmente na linha, e nós, bem, nós somos substituídos por bonecos 3D que giram até 360º. Eu topo.
2 Comments:
Por um lado o tira-teima elimina discussões, tira todas as dúvidas daquele lance duvidoso. Mas será que a precisão do tira-teima possui certificado de qualidade ISO 9000. Será que devo acreditar quando o tira-teima relata que o atacante estava impedido 17 centímetros e que o gol foi ilegal. Se tomarmos essa linha de raciocínio, muitas das outras utilidades do tira-teima também seriam questionadas. A de cunho político, religioso e a melhor de todas...a dos marronzinhos. Chamo júri!!!
Saudações,
Roberto Salomão (vulgo Pe. Marcelo)
na linha juvenil-adulto,
gostei muito deste também.
mesmo!
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