Thursday, August 10, 2006

NO DIA DOS PAIS, NÃO PEÇA PARA ELE TE BUSCAR NA MATINÊ.

De uns dois anos para cá, grandes amigos começaram a ganhar nenê.

Isso mesmo, ganhar nenê. E já começa por aí. O termo vem todo errado. Parece que as crianças chegam ao endereço comercial do destinatário, embalados em plástico-bolha, recobertos por um resistente papel pardo do Submarino.com.

Eles acabam de se tornar pais.

Pais como o meu, o seu, o pai do seu pai. O pai dos burros. O pai da aviação. O pai do Fábio Jr. O pai do papai Papudo.

Eles acabam de entrar na fase dois e terão que decorar um novo e extenso manual, que infelizmente, não sai na Ação Games do mês vigente. Muda as roupas, o palavreado, o penteado. Mudam os hábitos alimentares, os horários, as práticas econômicas, o nome de algumas capitais não muito importantes, muda a voz.

Pessoas que até ontem rolavam comigo na porrada, enchiam a cara de vodka barata misturada a qualquer coisa, que ligavam em casa disfarçando a voz: “Alô, eu queria falar com o Abdalla. É da Receita Federal?”

Claro que é.

Aí eu me pego visitando em maternidade, nitidamente sem saber o que dizer na hora certa. Parece que as palavras são sempre mal escolhidas. “Não acredito que essa criatura tão lindinha saiu de suas entranhas” para amigas e “É, deu pra ver que não puxou o pai. Graças a Deus”, para amigos. Aliás, se todo pai ganhasse um dobrão de ouro, que vale muito mais do que dinheiro, cada vez que alguém dissesse isso, não haveria peruas Ipanema entupindo as estradas que levam à praia, a cada feriado prolongado.

Na presença do recém nascido, cinco coisas devem ser evitadas, a saber: palavrões, Vasenol Juntas e Articulações, queijo processado tipo chedar, sungas de lateral estreita (sempre elas), e o livro “De onde viemos?”

Meu Deus, como é pequeno.

Daí você repara no seu amigo com aquela cara. Ele é pai. Você é tio. Tenha medo.

Meninos tornam-se pais. Meninas tornam-se mães. Tampinhas de refrigerante tornam-se arte moderna que, se fosse feita por minhas mãos, não estaria exposta nem no mural de recados do meu prédio.

Se eu seria um bom pai? Bom, isso depende de algumas variáveis. As únicas vezes em que me prontifiquei a cuidar de seres vivos não foram muito louváveis. Pergunte ao lindo peixinho dourado que recebeu o nome de Guerreiro por conseguir viver por dois longos anos numa água turva de um aquário improvisado em copo americano. Ou àquela criança loirinha que ficou sob minha custódia no reveillon de 88, e que, após tomar uma dessas raspadinhas de groselha, tornou-se um grande e felpudo panda vendedor de algodão doce. Sim, é assim que eles começam.

Se for homem: jogador de futebol. Se for menina: manequim estilo vitrine vivo. Nada de estimular advocacia, medicina ou engenharia. Serão artistas independentes. A grana apertou, basta correr pro semáforo.

Você já é pai? Então parabéns. Ainda não? Então agiliza. Um exército de pandas vendedores de algodão doce vem aí.

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