Thursday, May 18, 2006

SAUDADE DO UBIRATÃ.

Cansei de ser engraçadinho. Essa semana, nada de humor, piadinha, comparações bestas. As manchetes não me deixam escolha.

Acabou a paciência e não tenho o menor motivo para mascarar a raiva que estou sentindo. Queria dizer um monte de palavrões. Chutar uma bacia de alumínio pra fazer bastante barulho. Quebrar um copo. Jogar um cubo mágico contra a parede. Infelizmente não posso dizer ao pé da letra o que eu queria fazer. Mas espero que vocês entendam.

Nada explica ter que largar o trabalho no meio da tarde e correr pra casa como um escoteiro sem o canivete. Olhando pelo retrovisor, o contraste de rostos assustados e a felicidade de vendedores de churrasquinho faturando alto. Fato é: o medo causa fome.

Os espetinhos vendidos só me faziam lembrar ainda mais do bandido que pediu X-Picanha com fritas, por se recusar a comer a pizza pedida pelo delegado no dia de um certo interrogatório. Maravilha.

Os bandidos inventam apelidinhos para eles mesmos e todos nós temos que aprender a chamá-los carinhosamente por eles. Que Marcola, que Dedê do Boréu, que Tuquinha Bigode. Tem que chamar todos eles por número. Marcar o lombo igual fazemos com o gado antes de virar espetinho.

Alguém de pulso firme decide fazer o que todos sonham em fazer. Pronto. Já sai especial de Globo Repórter, a opinião pública se divide, e os desocupados dos direitos humanos, entram em cena novamente.

Direitos humanos? Um bando de desempregados que, para não ficar em casa atendendo telefone e anotando recado, arranjam uma ocupação. Que tal instituirmos o dia da visita íntima coletiva às celas de estupradores para eles? Ou o dia do banho de língua aos presos aniversariantes do mês? Afinal, todo preso maior de idade merece um banho de língua no dia do seu aniversário.

Uma cidade do tamanho de São Paulo, parada por causa de boatos e ameaças. O que se seguiu foram filas para usar o banheiro do escritório, estagiários agarrando a força e amarrotando os vestidinhos das diretoras, gente experimentando pela primeira vez o frapuccino da máquina, como se aquele fosse o último dia de suas trágicas vidas. Todo mundo querendo ir embora logo depois do almoço. Chegaram na hora da janta em casa, respirando um delicioso monóxido de carbono nas ruas e presenciando de camarote cruzamentos travados, ônibus lotados e especialistas de coisa nenhuma dando suas importantes opiniões nas rádios.

Concordo plenamente em fornecermos TVs de plasma 42” para eles assistirem a Copa. Bandido é pé quente.

Penso também em doar o colchão da minha cama sempre que algum preso resolver queimar o dele. Não é justo que um ser humano durma num chão frio. Não mesmo.

E os celulares? Eu me preocupo muito em saber se os modelos utilizados nas cadeias possuem streaming de vídeo, câmera com resolução de 2 megapixels e tocador MP3. Podemos ter artistas genuínos encarcerados. Que desperdício. O novo Fernando Meirelles pode estar vendo o sol nascer quadrado.

Os presídios de segurança máxima deveriam ser desativados. Eles detestam ser transferido para eles. Por que não optar por presídios de segurança mínima com paredes de isopor? Mais barato e divertido. Os policiais estariam sempre vendados e, de meia em meia hora, seriam rodados sucessivas vezes sobre o próprio eixo para perder um pouquinho a noção espacial.

Viva a bomba de efeito moral. Essa sim resolve. A cada explosão ouve-se a voz de uma autoridade em psicologia moderna aconselhando os delinqüentes de que o crime não compensa.

Raiva, muita raiva. Infelizmente não tive coragem de escrever a solução pra tudo isso, e olha que eu tenho. No próximo toque de recolher, convido todos para um churrasco na minha casa. A cada caixa de cerveja trazida, mais dois e cinqüenta, ganhe um membro dos direitos humanos de pelúcia.

1 Comments:

Blogger Bira said...

Titulo estranho...

Bira

5:10 PM  

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