Thursday, April 06, 2006

PÁSCOA.

Eu não sou um grande fã da Páscoa. Isso é pecado?

A desconfiança com a data vem de muito tempo atrás, quando, mesmo sem saber o porquê, e vivendo justamente a fase do “por quê?”, fui vetado de comer carnes e derivados numa sexta-feira nublada.

Minha dúvida começou na escolinha, quando já costumava decorar as datas do calendário para saber exatamente quando teria um feriado.

- Mãe, que dia é a Páscoa?
- Não sei, precisa contar no calendário 40 dias a partir do carnaval.
- E que dia é o carnaval?

Não me lembro da resposta, mas lembro que era complexa e envolvia um cálculo matemático relacionado não só ao carnaval, mas também à lua cheia, às colheitas de arroz no Japão, e ao acasalamento das baleias Jubarte no Ártico.

Para completar, o feriado se dá em abril, um mês estranho. Nem quente, nem frio. Nem sol, nem chuva. O pé na estrada se dá na quinta, pós-escritório, e a viagem só termina após a meia noite, graças a nossas adoráveis estradas entupidas. Se você reparou, já passamos da meia-noite e já estamos em plena sexta-feira santa. Em outras palavras: embargo à churrasqueira.

Está na lei. Nesse dia, não podemos comer carne e derivados. Lá em casa, a gente não comia nada que levava leite, ovo e adjacências. Dessa forma, resumia minhas 3 refeições diárias a café preto, arroz e zatar, uma especiaria árabe para comer com azeite e pão.

Teve um ano, que após resistir bravamente por 22 horas, sucumbi frente a um pacote de Baconzitos. Tentei em vão me enganar de que se tratava apenas de um salgadinho. Mas o verso da embalagem, trazia grifada em marca-texto, a frase “aroma artificial de bacon. Queime no inferno, herege”.

Passada a sexta, temos o sábado de aleluia. Se me perguntassem o porquê da palavra “aleluia” eu diria algo referente à liberação do consumo de carne, ou inventaria uma lenda besta envolvendo as palavras “torniquete”, “flanco” e “brasão”.

A parte legal da história é a que envolve porretes e um corpo de jornal e roupas velhas. Malhar o Judas é muito bom. Eu nem sabia quem diabos era Judas e já saia distribuindo bordoada. Teve um ano que a gente jogou ele do décimo nono andar do prédio, no meio do pátio. Três amigos ficaram no térreo gritando para que ele não pulasse. A queda durou exatos sete segundos, tempo suficiente para juntar duas velhas horrorizadas do lado de fora do portão.

Chega o domingo. Todos se metem a seguir pegadas para encontrar ovinhos. Pra falar a verdade, nunca acreditei muito na existência do tal Coelho da Páscoa. É meio assustador imaginar que um ser de olhos vermelhos e dieta baseada em cenoura, tenha uma chave mestra com uma que abre a porta da minha casa.

A criatura entra na sua casa enquanto você dorme, fuça nas suas coisas, se enxuga com a sua toalha de rosto e veste o seu maiô, só de sacanagem.

Depois, numa atitude de delinqüente profissional, esconde prendas achocolatadas e espalha pistas pela cena do crime. Se você não encontrar o refém num tempo xis, já era. Mesmo organizando um mutirão, o máximo que você vai encontrar será uma poça de cacau com gosto de carpete bege. Eca.

O domingo vai chegando ao fim, e a programação televisiva que nunca é respeitável nesses dias, consegue se superar, reprisando filmes com péssimos atores representando Jesus. Quem disse que Ele gosta da idéia de ter sua história traduzida em filme? Sei, não.

Se eu quero ganhar um ovo? Acho que sim, desde que dentro dele venha uma tabelinha prática que me ensine de uma vez por todas a calcular quando cai a Páscoa. Feliz.

2 Comments:

Blogger Unknown said...

ei entra no meu GAME

www.navexxx.com/port/

5:37 PM  
Anonymous Anonymous said...

às abundâncias e prazeres alimentícios da família abdalla...

sobre:"o feriado se dá em abril, um mês estranho. Nem quente, nem frio. Nem sol, nem chuva"

me rendo:

Hummmm...Que canja!

11:03 AM  

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