NO BARBEIRO.
Depois de uma prolongada ausência, longe da tesoura, cultivando um quiosque capilar, resolvi me render ao banho e tosa. Fui ao salão de sempre e máquina no penacho.
Cortar o cabelo é um evento daqueles místicos onde você ingressa num mundo à parte por cerca de meia hora. Uma espécie de maçonaria com sons e fisionomias conhecidas. A TV transmite o futebol italiano, revistas variadas com as capas rasgadas repousam sobre uma bancada, não respeitando cronologia alguma, exceção feita a Playboy, sempre na última edição.
A decisão pelo corte segue a lei dos dez, quando estabelecemos uma data importante no calendário e então encaramos as tesouras com dez dias de antecedência.
Fato é: o corte nunca fica bom no dia. Você demora até se acostumar com a cara de pilão de caipirinha que fica assim que sai do salão, ainda com marcas evidentes de talco no pescoço.
Antes de ser atendido, um cumprimento cordial arqueando a sobrancelha mostra um respeito silencioso para com os outros que estiverem na espera.
Seu nome é chamado. É hora de desfrutar o conforto incomparável de uma cadeira que te abraça, não dando opção de fuga. Assim que o avental é amarrado ao pescoço, não há mais volta. Muitas vezes, o cabelo que parecia não ter solução, se mostra mais belo frente ao espelho do salão. Não sei o que acontece. Já pensei muitas vezes em desistir do corte. Em vão.
O tempo é curto para a explicação. Uma instrução mal passada pode levar a uma catástrofe, bem no meio do redemoinho.
Máquina só nas laterais. Desfia a franja. Máquina em tudo. Corte a tesoura. Só navalha. Barba e cabelo. Os cortes que você vê nos seus amigos, na maioria das vezes não combinam em você, não adianta inventar.
Junto com o serviço, tem início o típico bate-papo com o sujeito que maneja as lâminas logo atrás da sua orelha. Política, religião, futebol, mulher, piada, família, loteria. Melhor concordar com ele.
Momento tenso: altura da costeleta e pezinho. É impossível sair de lá com a simetria das costeletas perfeita. Já o pezinho pode representar o êxito ou um retorno precoce ao salão na semana seguinte.
Um espelho quadrado é posicionado atrás de você para que seja possível a apreciação do trabalho. Um sinal de afirmativo com a cabeça é o suficiente. Obviamente você não está satisfeito com o serviço.
O gran finale é a lavagem na água morna com a cabeça apoiada naquele troço, meio pia, meio poltrona do papai. O cheiro de Colorama segredo das algas permanece no couro por no mínimo dois dias.
Enquanto você procura o dinheiro na carteira, um espanador de plástico com talco vem de encontro ao seu rosto. Parece o fim, mas é apenas o começo. É hora da primeira aparição pública pós-cortem: “Foi no 3 irmãos? Um corta, e dois seguram?”; “Onde é o endereço do pomba?”; “Quem fez essa covardia com você?”. E por aí vai. As piadinhas duram até a meia noite do nono dia.
No décimo, um misto de satisfação e orgulho. Agora é cuidar do penteado. Lembre-se de lavar e secar com carinho. Não presta dormir com o cabelo molhado.
Cortar o cabelo é um evento daqueles místicos onde você ingressa num mundo à parte por cerca de meia hora. Uma espécie de maçonaria com sons e fisionomias conhecidas. A TV transmite o futebol italiano, revistas variadas com as capas rasgadas repousam sobre uma bancada, não respeitando cronologia alguma, exceção feita a Playboy, sempre na última edição.
A decisão pelo corte segue a lei dos dez, quando estabelecemos uma data importante no calendário e então encaramos as tesouras com dez dias de antecedência.
Fato é: o corte nunca fica bom no dia. Você demora até se acostumar com a cara de pilão de caipirinha que fica assim que sai do salão, ainda com marcas evidentes de talco no pescoço.
Antes de ser atendido, um cumprimento cordial arqueando a sobrancelha mostra um respeito silencioso para com os outros que estiverem na espera.
Seu nome é chamado. É hora de desfrutar o conforto incomparável de uma cadeira que te abraça, não dando opção de fuga. Assim que o avental é amarrado ao pescoço, não há mais volta. Muitas vezes, o cabelo que parecia não ter solução, se mostra mais belo frente ao espelho do salão. Não sei o que acontece. Já pensei muitas vezes em desistir do corte. Em vão.
O tempo é curto para a explicação. Uma instrução mal passada pode levar a uma catástrofe, bem no meio do redemoinho.
Máquina só nas laterais. Desfia a franja. Máquina em tudo. Corte a tesoura. Só navalha. Barba e cabelo. Os cortes que você vê nos seus amigos, na maioria das vezes não combinam em você, não adianta inventar.
Junto com o serviço, tem início o típico bate-papo com o sujeito que maneja as lâminas logo atrás da sua orelha. Política, religião, futebol, mulher, piada, família, loteria. Melhor concordar com ele.
Momento tenso: altura da costeleta e pezinho. É impossível sair de lá com a simetria das costeletas perfeita. Já o pezinho pode representar o êxito ou um retorno precoce ao salão na semana seguinte.
Um espelho quadrado é posicionado atrás de você para que seja possível a apreciação do trabalho. Um sinal de afirmativo com a cabeça é o suficiente. Obviamente você não está satisfeito com o serviço.
O gran finale é a lavagem na água morna com a cabeça apoiada naquele troço, meio pia, meio poltrona do papai. O cheiro de Colorama segredo das algas permanece no couro por no mínimo dois dias.
Enquanto você procura o dinheiro na carteira, um espanador de plástico com talco vem de encontro ao seu rosto. Parece o fim, mas é apenas o começo. É hora da primeira aparição pública pós-cortem: “Foi no 3 irmãos? Um corta, e dois seguram?”; “Onde é o endereço do pomba?”; “Quem fez essa covardia com você?”. E por aí vai. As piadinhas duram até a meia noite do nono dia.
No décimo, um misto de satisfação e orgulho. Agora é cuidar do penteado. Lembre-se de lavar e secar com carinho. Não presta dormir com o cabelo molhado.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home