Thursday, March 16, 2006

NÃO MUDA EM NADA.

Essa semana, enquanto curtia o show de uma ótima banda de Olinda num barzinho, ouvi um cara falando algo, na verdade, pedindo algo, que me fez pensar em escrever o texto de hoje.

O cara, na casa dos trinta e muitos, era daqueles que usa camiseta com estampas coloridas e descoladas, calça jeans estonada, mas que entrega a idade no erro da meia branca e do mocassim de franjinha na frente.

Entre uma dancinha contida e uma jogada de mãos para o alto, ele entornava cervejas sem miséria. Num de seus pedidos, barrou a passagem do garçom projetando o quadril para a frente como se quisesse tirá-lo para um arrasta pé.

- Opa, mais uma breja.
- Tá na mão.

Não satisfeito, retornou o pedido.

- Não, não, eu quero aqueeela.

Clóvis, como suponho que se chamava o garçom, deu uma mexida sem jeito na caçamba suada por fora, como se realmente soubesse onde estava escondida a bebida mais gelada.

Provavelmente pegou a mesma, e devolveu ao tiozão, que para completar a cena, agradeceu com o típico comprimento dos jovens: tapinha na mão, seguido de um soquinho. Francamente.

A questão é: muitas coisas que fazemos ou pedimos no dia a dia, não mudam em nada o que já estava traçado no destino. É perda de saliva, de tempo e de paciência.

Em outra situação muito comum, normalmente em restaurantes, cometemos o mesmo erro previsível. Ao pedir “capricha tá” estamos assinando nosso atestado de óbito estomacal.

O que se segue é o seguinte: garçom sorri e dispara o técnico “pois não”, anota um garrancho qualquer naquele bloquinho sem pauta, anda meio que desfilando até a cozinha, que tem a porta com dobradiças iguais às do velho oeste. Em tom de deboche provoca o cozinheiro, os dois caem na risada e remedam a voz do cliente, tratado como palerma: “capricha, tá”. Visite nossa cozinha? Um convite ao flagrante.

Embalados pelo puts-puts das danceterias, nos debruçamos no balcão do bar pedindo um chorinho na dose. Até parece. A não ser que você tenha ganhado no jogo do bicho e tenha dado aquela turbinada em cima, nada de chorinho. O máximo que pode ganhar é um copo limpo, sem marca de batom ou gosto de gordura de picanha na borda.

“Opa, pede pra dar uma agilizada que eu estou com um pouquinho de pressa”. Essa frase faz mais gente rir do que a imagem de um político com cílios cumpridos andando de monociclo sobre uma pista de gel. Admita. Nada do que você diga ou faça pode fazer com que a velocidade do pedido ou do atendimento seja alterada.

O que podemos fazer? Não faço a menor idéia. Parar é mais difícil do que largar o vício de apertar todos os botões do elevador antes de descer. Isso faz parte da vida. O jeito é evitar frases inúteis ou entrar de uma vez por todas para o time do mocassim com franja.

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