Thursday, February 02, 2006

O FIM DA MAMATA.

É meus amigos, o horário do banho de sol está para acabar. É assim que a maioria dos alunos se sente na festa da volta às aulas. Não posso ser hipócrita, eu também me sentia assim.

Dias de pernas para o ar. Seções intermináveis de TV pela manhã, praia, piscina de tarde, petiscos de madrugada, baladas em plena segunda-feira, horários flexíveis de alimentação.

Todo mundo ralando e você na maior mordomia. Tudo o que é bom acaba. Melhor aprender cedo, porque logo você vai ter que fazer algo para comprar os petiscos que devorou nas férias. Ou você acha que no futuro a prática do fiado vai continuar existindo?

Passado o trauma, o enjôo e a raiva do mundo, o melhor a se fazer é pensar positivo, e não estou sugerindo frescuras psicológicas de visualizar um copo meio cheio ao invés de um meio vazio. Estou falando para ter foco no que vale a pena. Estando no inferno, abrace o capeta, faça uma aliança, ensine a Dança da Manivela para ele.

Vamos começar pela reposição de material. Se você tiver irmãos mais velhos como eu, talvez seja abençoado e herde livros de exercícios feitos de cabo a rabo, isso se a mamãe não fizer você apagá-lo folha por folha. Nesse caso, não empregue muita pressão na borracha. Com técnica e paciência você consegue deixar uma fina camada visível a olho nu.

Se você não for adepto dos fichários é hora de escolher uma dúzia de cadernos novos. Um para cada matéria. Cem folhas: 25 para aviões, barcos e afins; 25 para a confecção de projéteis; 25 para bilhetinhos; 25 para amassar e fazer uma bola revestida de fita crepe. Para anotar as aulas? Ah, peça umas folhas para o sujeito do fichário. Se eu encapava os meus? Claro que não.

No quesito uniforme, o que é melhor? Estrear um novo ou desfilar com o seu, numa versão ainda mais surrada, com fiapos na barra e a camiseta onde quase não se lê o nome da escola? Vale tudo para causar a impressão certa logo de cara.

Ainda buscando uma melhor adaptação ao novo fuso e ao recesso do horário de verão você chega meio que se arrastando e vai logo procurar em que sala caiu. Por que o Rafinha não está na minha classe. Quem é Tabata? Será que é gatinha? Aderbal? Puts, o cara da pinta peluda no pescoço. Que saco.

Ao entrar na classe começam a se formar os grupinhos, todos falando ao mesmo tempo como se estivessem num desses elevadores panorâmicos de shopping. Você não escuta o que os outros dizem e não consegue o timing necessário, nem o efeito de gelo seco para contar da água-viva que enrolou no seu tornozelo em Itaguá.

O professor entra e já tenta por uma banca. Vai ser um ano difícil. Muitas dízimas, raízes e pontos negativos. Quem não andar na linha terá problemas. Como se não bastasse pede uma lista extra de materiais: argila, compasso de fibra de carbono, papel A9, lápis HB, 6D, numa batalha naval entre a madeira e o apontador de ferro. Outro dia, não pude entrar no banco por ter um destes no bolso.

No fim você percebe que não é tão ruim voltar a estudar. Quando temos muito tempo para curtir acabamos acomodando. Isso é fato. Muitas vezes, aproveitamos com mais intensidade um belo de um feriado prolongado do que as férias inteiras. É assim que funciona, e não adianta discutir.

O jeito é fazer as contas. Carnaval, Páscoa, férias de Julho, Semana do Saco Cheio, Especial do Roberto Carlos.

Convencidos? Enquanto você pensa numa resposta mal criada, seus pais, os pais dos seus amigos, o Capeta, eu e a água-viva comemoramos a doce vingança de vê-los em mais um ano de confinamento estudantil. Rá rá rá.

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