Thursday, February 02, 2006

LÁ VEM O SOL.

Menino, passa o protetor. Certamente você já ouviu esta frase que irrita os ouvidos mais do que os raios UV irritam a sua pele. Que o sol esconde alguns riscos todos nós já sabemos, mas cá entre nós, ficar em casa com cor de brócolis não dá.

Basta apontar um filete luminoso para o humor de todo mundo melhorar, exceção feita aos funcionários dos pedágios. Nunca se esqueça de agradecer a eles pelo nome. Aquela plaquinha na cabine não está lá à toa.

O mundo é dos morenos. A frase que parece pretensiosa está escrita no interior de três das maiores pirâmides do baixo Egito com sangue de escravos brancos, considerados hereges perante o poderoso deus Rá.

Sim, o parágrafo anterior é mentira, menos a parte que frisa a importância dos de cútis dourada na Terra.

Marquinhas de biquíni. Cor do pecado. Cor de jambo. Moreninha. Ninguém sai por aí espalhando “nossa, precisa ver a branquelinha que eu saí ontem”.

Me perdoem os albinos. Eles que encontrem alguma solução. Insulfilm é uma, mas precisa ver se é permitido pelo Detran.

O verão é uma fase única no calendário. É o período que nos coloca de verdade para trabalhar, focados e sem dispersão. Ninguém quer correr o risco de ter que ficar até depois do expediente. Seis em ponto e área. Reunião no fim do dia? Só se for pra eleger o melhor boteco pra beber, ou criticar a sunga de lateral estreita do Freitas.

Também é um período onde voltamos à infância, em parte por acordarmos sempre molhados, em parte por queremos dar bombas em piscinas e tomar todos os sorvetes do cartaz do sorveteiro, que sempre diz ter todos, mas na hora da escolha vem com o clássico “ih, esse é o único que tá em falta”.

É também o período onde os diminutivos surgem por entre as nuvens ortográficas com enorme potencial convidativo: raspadinha, batidinha, caipirinha, cervejinha, piscininha, sonequinha, prainha.

Mormaço. Esse sim merece cuidado. Dissimulado que só ele, se esconde na nebulosidade para tostar nossa moleira. Sabe quando sua mãe envolve aquela peça de miolo de alcatra com o papel alumínio e assa por 30 minutos? Então.

Lembro de ter adormecido um dia desses sem me preocupar com ele. Acordei inchado feito um sapo. Mais uma vez, receitas caseiras passadas de geração em geração, aliviaram meu ardido, numa poderosa mistura de Maizena com água do filtro espalhado pelas áreas afetadas, no caso, todas.

Quer ficar com a cor do Kadu Moliterno? Lembre-se de tirar a camiseta regata antes. Mais ridículo que essa marca no corpo, só mesmo andar com aquele colete de madeira “compro ouro”.

E quando anunciam “hoje acaba o horário de verão” sinto como se ele, novamente ele, o poderoso deus Rá enviasse sua última flecha calorosa e levasse tudo de uma vez só: a cor, os biquínis, meu copo americano suando por fora e principalmente o meu humor.

Voltamos à estaca zero. A partir daí são 3 longas estações até um novo e surpreendente verão. É hora de pedir desculpas à branquelinha lá de cima e tirar onda de quem fez bronzeamento artificial, e adquiriu aquela cor de salsicha pré-cozida.

Por isso mesmo já deixo avisado. Se esta coluna não pintar por aqui num desses finais de semana de 30 graus e céu de brigadeiro, já sabem: ou estou na piscina ou curando meus ardidos com Maizena.

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