Wednesday, February 22, 2006

ROUBARAM O CORAÇÃO DA MINHA SOGRA.

Enquanto você lê esta coluna eu estarei me deliciando com marchinhas e gostinho de confete na língua, ou estarei preso no trânsito, ouvindo pela oitava vez o mesmo CD, com a água de litro pela metade e morna, e um resto de salgadinho de bacon de marca alternativa.

Alguém tem um chiclete? Com certeza não. Sempre que você precisa, ninguém tem. Mas é só voltar do banheiro com o hálito refrescante típico da pós-escovação, para alguém te oferecer.

No carnaval, me sinto ainda mais brasileiro. Dias de folia, algazarra, curtição, balbúrdia e muitas outras palavras que soariam ridículas em outros meses do ano.

E daí que axé é um saco? E daí que bêbado é um porre? E daí que pode ser que chova? E daí que o cheiro de suor com urina é um nojo?

Não está afim, fica em casa. Aluga Ben-Hur, faça uma pesquisa sobre a planária. Compre um aquário. Monte um quebra-cabeça de seis milhões de peças, inscreva-se num curso de bombons finos. A páscoa tá aí.

Odeio quem odeia o carnaval. “Ai, eu fujo”; “Passou o meu tempo. Prefiro descansar”. Muda pra Islândia.

Pior que isso, só quem fala “vamos pular o carnaval”. Como assim? Pular o carnaval?

É impossível controlar os hormônios. É como se internamente alguém dissesse para eles que estão distribuindo assinaturas grátis da Playboy no setor 15, ao lado do esôfago.

Mentalmente me pego cantando as musiquinhas do Silvião referentes à pipa do vovô que não sobe mais, ou da bruxa que planeja vir na companhia do saci. Enquanto isso, na toda poderosa podemos ver a perfeição da mulata que samba com aqueles efeitos que só o Hans Donner acha bonito.

E os desfiles televisionados, com imagens virando pandeiros ou aviõezinhos trazendo um mestre-sala em slow motion piruleteando no ar? Melhor: apuração de votos. Uma guerra sem limites travada na base do “êêê” com as notas dez e os “aaahhh” com as notas baixas. Gosto muito do termo “quesito” e mais ainda da voz do sujeito que anuncia as notas.

Fantasia? Peguei trauma. Sim, lá vem mais um caso familiar: eu e meu irmão, no carnaval de 85 fomos sumariamente obrigados a usar a mesma fantasia, diferente apenas na cor. Éramos palhacinhos com os olhos pintados, eu o esquerdo, ele o direito, e uma espessa camada de tinta contornado a boca. Para completar, uma foto fazendo careta com as mãos à frente, como se quiséssemos pegar a pessoa que vê a fotografia.

Passado o trauma, peguei gosto pela festividade. Quatro ou cinco dias de alegria sem fim, vivendo cada dia como se fosse o último, de um último carnaval, de uma última geração, de uma última dinastia de uma linhagem de macacos machos em dia de visita íntima no presídio.

Se beber, não dirija. Não fale cuspindo, não xaveque a mulher alheia, não tente sambar, não grite “ninguém é de ninguém”, não amarre a camiseta passando a parte de baixo pela gola, revelando o redemoinho de pêlos do seu umbigo.

Dizem que o ano só começa depois do carnaval. Não se esqueça de comer lentilha na quarta-feira de cinzas.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

nos ares de atibaia(tupi-guarani: água-pura).

ao som das cornetas,

muitos bonecos de papel machê.

skindô skindô.

11:13 AM  

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