Tuesday, May 02, 2006

ME MANDA O SEU CV.

Descobri por acaso que onze entre dez pessoas possuem um CV, curriculum vitae, em itálico pra ficar mais bonito e porque é latim, currículo ou simplesmente, ficha na polícia.

Neste documento hipócrita, que muitas vezes recorre a uma tonalidade de papel de pão para dar um ar Luiz XV, encontramos todo tipo de imbecilidade, passando pelos livros de auto-ajuda lidos pelo candidato durante seu intercâmbio cultural no estrangeiro, chegando até a sua predileção por iogurtes esfoliantes sabor colágeno. E eu venho aqui te perguntar: pra quê?

Sou daqueles que não possui um currículo dos mais extravagantes, com cursos de nomes complicados seguidos de algarismos romanos, workshops e fofocas da infância. Meu currículo se resume a uma única página, assim não encho o saco de quem lê, que na verdade, mal sabe se estou dizendo a verdade.

Inglês fluente. O caramba. Ou você nasceu na desgraça do país ou você não é fluente. Conheço gente que fica falando rapidinho só pra dar a sensação de que possui uma boa prática em conversação. Tem nada. É um emaranhado de “you know” mais uma batelada de “yeah, yeah that`s fine”. E toda hora apela para um “sorry?”

Mais abaixo encontramos as linhas separadas para os cursos de computação. Pra começar, o nome “curso de computação” já me dá uma ânsia, a mesma que eu sentia quando tinha quatro anos, no meio da serrinha do Guarujá.

Pacote Office completo. Que beleza hein? Já dá pra casar.
Curso técnico em Plataforma Windows XP com borda recheada. Saber trocar o papel de parede do seu computador não te credencia como Mestre Faixa Preta de terceiro dan.

Chegamos a sessão mais besta conhecida como workshops. Pra mim, essa parte só atesta a preguiça do candidato. Se fez workshop é porque teve coragem de se aventurar em algo mais duradouro.

A única coisa que você podia aprender em menos de um dia era a moral da história que sempre vinha no final dos episódios de He-Man e She-Ha, bons tempos aqueles.

A página vai ficando pequena pra tanta baboseira, mas ainda há espaço para um mini-bate-bola, tipo o que a Xuxa fazia com seus convidados: uma cor: verde; uma palavra: amor; você por você mesmo: não tenho nem coragem de escrever esse.

Ótimo em trabalho em grupo. Que vá liderar uma equipe de escoteiros então.

E os que falam de seus dotes motivacionais? Como pode um sujeito estar motivado vestindo uma camisa de seda lilás com uma gravata azul royal lisa bem cumprida, cobrindo inclusive o cavalo da calça? Meu Deus. Essas camisas de seda costumam ser meio brilhantes e ficam folgadinhas no corpo. Não dá para saber se o candidato está em forma, ou se não passa de um flan sabor caramelo, que tomava beliscões nas tetinhas em pleno terceiro colegial, época em que era carinhosamente chamado de Dim (Pudim).

Agora entram as empresas por onde o cabra passou. Eu prefiro o termo “tem referência?”. Daí a pessoa lista tim tim por tim tim tudo o que fazia por lá, o nome de solteiro dos amigos, conta da festa de fim de ano no buffet infantil, da vez em que o Amadeu apareceu com a barba feita só de um dos lados e outros pormenores. No cargo, coloca algo como: gerente de novas ocasiões besuntado em afazeres fiscais.

A solução mais rápida seria a eutanásia, mas, para não parecer tão radical vou dar uma dica. Ainda de frente para o entrevistador comece a dobrar o seu currículo. Faça um avião do tipo Planador. Diga algo como “é hoje que a minha carreira decola”. Assim que a pessoa fizer cara de ânsia, como a minha da serrinha do Guarujá, jogue o avião com toda a força nela, roube o grampeador e tudo o que estiver ao seu alcance e corra, corra muito. Passando pela recepção, seja simpático: “tenha um bom dia, madame”.

Pode ser que você não arrume trabalho tão cedo. Nesse caso, use o seu inglês, aquele que você disse que era fluente, ligue aqui pra redação e diga “I work for peanuts”. Foi o que eu fiz. E funcionou.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

e o meu cv, posso te enviar!?

(te mando em particular).........

bibelot.

10:54 AM  

Post a Comment

<< Home