Thursday, May 25, 2006

EU NÃO ACREDITO.

Descobri que uma das coisas que mais me dá prazer é mentir.

Quando mentimos, podemos conduzir os assuntos para onde bem entendemos. Somos atores e diretores de nossos próprios filmes. Você acrescenta figurantes, cenários, dramaticidade, humor, efeitos especiais, e, uma simples ida até a padaria transforma-se na continuação não rodada de “Os Trapalhões na Serra Pelada”.

O final da história pode ser feliz, triste, ou simplesmente não existir. Tudo depende da sua audiência. Precisando apelar, apele. Todos os recursos estão à sua frente, não perca a chance de contar uma grande história.

Há um ditado que diz que a repetição de uma mentira sucessivas vezes transforma ela numa verdade. Eu diria que acreditar na mentira que você conta já é suficiente.

Mentira com perna curta é coisa de amador. A mentira bem contada resiste ao tempo e pode te proporcionar novo prazer, muitos anos depois, ao ser revelada. Os mesmo olhos atentos que se encantaram, agora se enraivecem, riem de nervoso por terem acreditado. Juram nunca mais acreditar em você. Mentira deles.

As referências estão em todo lugar. Quem lê, sabe.

Assim como compor, pintar, esculpir, mentir também é uma arte, com a vantagem de que um mentiroso pode se passar por qualquer um dos anteriores e ganhar muito mais do que eles juntos.

Até a folhinha já se rendeu aos encantos da mentira. Tá lá: primeiro de abril, dia da mentira. Dia da verdade não tem.

Sugiro até criarem o museu da mentira. Seria dividido em seções: advogados famosos, propagandas inesquecíveis, pescadores. Teria um andar inteirinho dedicado aos políticos. Seguiria a cartilha dos museus com fotos antigas protegidas por vidros, sinopses explicativas, fones de ouvido para escutar trechos de mentiras épicas, vídeos e outros aparatos tecnológicos multimídia. No fim, lojinha com camisetas, chaveiros, bonés e frases conceituais idiotas do tipo “Museu da mentira. Juro que é verdade”.

Pé chato? 8 graus de astigmatismo? Língua bifurcada? Você mente quando se alista no exército.

A mentira é necessária. Estudos revelam que pessoas que só contam a verdade têm maiores chances de morrer entaladas com um petit-four de fundo de alcachofra num baile de debutantes.

Você mente quando sobe ao altar, mente para ser promovido, mente para passar na provinha do espanhol nível básico. Mente pro flanelinha na hora de pagar, pro carinha do exame médico e pro policial rodoviário. Daí, mente para o seu próprio estômago dizendo que o bacon extra não vai fazer mal, e para a sua dentista dizendo que tem usado o fio dental regularmente.

“Humm, eu adoro carne de soja Dona Silvia. Sagu de sobremesa? Claro.” Você mente sentado à mesa da sua futura sogra.

“Possui experiência com isso? Claro que sim”. A mentira surge por necessidade e acaba virando uma questão de sobrevivência. Quando você se dá conta, está dirigindo uma balsa com 50 veículos a bordo. Atracá-la? Moleza. Eu chamaria de sorte do mentiroso.

Você é honesto? Ótimo. Perca todo o seu dinheiro numa mesa de pôquer em Vegas. Depois é só contar a verdade em casa. Vai fundo.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Aprendi muito

5:20 PM  

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