Monday, August 13, 2007

UM DIA EU AINDA MORRO DE VERGONHA ALHEIA.

Olhar ao próximo pode muitas vezes ser um grande incômodo.

Isso acontece porque o ser humano costuma ter atitudes impensadas capazes de interferir diretamente com os seus sentimentos.

Olho para um lado e um conhecido do trabalho cantarola com a boca enquanto esboça uma requebrada de pelve, ainda sentado na cadeira. Os olhares curiosos acabam por estimular a cantoria e aprimorar os movimentos corporais. Sua mão percorre a camiseta sensualmente, pelo lado de dentro. Os olhinhos se fecham e a boca se abre franzidinha, revelando seus dentes da parte de cima.

- É que quando eu danço lá no clube o pessoal me chama de Serpente do Poperô.
Olho para o outro e me deparo com a senhorita “minha vida é um livro aberto”, ao telefone com o namoradinho da internet (vergonha), assassinando o bom português e contaminando o ambiente com uma névoa de açúcar cristal que acaba por provocar um enfarte no diabético Venâncio.

- Dendê? Divinha quem é? Já tô cum xoudadi! A zente si vê mais tádi, né? Tiamutiamutiamu ao infinituuu.
Sentir vergonha é ruim, mas nada se compara a sentir vergonha alheia. Não há para onde correr. A cena fica na sua cabeça e horas depois você continua incomodado.

A vergonha alheia é todo e qualquer sentimento ruim que você sinta por outra pessoa, assim como acontece quando o José Gotinha vacina um dos gêmeos univitelinos e é o outro quem chora.

Além disso, esse tipo de embaraço tem como característica marcante, a previsibilidade. Você antevê o problema, antecipa os movimentos, sabe o que vai acontecer, mas, por alguma força maior, não consegue impedir.

- Pelo amor de Deus, não deixa a Miriam pegar o microfone.
- Você prefere ela puxando trenzinho?

Engana-se quem pensa que tal vergonhinha acontece exclusivamente com pessoas próximas ao seu cotidiano. Assistindo TV, por exemplo. Pegue qualquer um destes programas dedicados a unir casais. O rapaz entra em cena com o seu crachá-coração e dá o seu showzinho particular:

- Sou um cara romântico, carinhoso, extrovertido, sincero e eclético. Eu adoro sair, viajar e praticar esportes radicais (onde você pratica esportes radicais, meu filho? Onde?). Ah, eu também danço axé, profissionalmente.

Nesse momento, sobe o som e o cara capricha para valer, motivado pelo “uh uh uh uh” que vem da platéia, ávida por desgraça.

(Nossa, até parei de escrever de tanta vergonha. Juro. Isso me faz mal).

Alguns canais pra frente, uma fileira de adolescentes, aguardam ansiosamente seus momentos de fama. Aquele que gritar “socorro + nome da apresentadora” mais alto, ganha o direito de enroscar a língua na da garota vendada. Um dos participantes, solta um grito fraquinho, fraquinho, e recebe uma calorosa vaia. Ele sorri, agradece com os punhos cerrados para cima e volta para a platéia como se nada tivesse acontecido, enquanto eu me soterro de almofadas para abafar o grito de desespero. Quanta vergonha.

- Úh uhú ai-ai-ai-ai-ai.

Quem inventou esse gritinho? Sempre que esboçam iniciar esta manifestação invejo as equipes do National Geographic, em suas expedições no ártico. Até onde eu sei, ursos polares são incapazes de queimar o filme por besteira.

Nas ruas a coisa fica ainda pior: pseudo-rachas com cantadas de pneu, buzinas temáticas, som no talo. Para onde quer que se olhe, lá estará alguém, numa situação ridícula, nem imagina o papel de pastrame que está fazendo.

E nem adianta sinalizar, pedir para parar, dizer que já basta. Você correrá o sério risco de se tornar protagonista.

Olhar ao próximo como se estivéssemos olhando a nós mesmos? Até parece.

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

de tantos...existem dois cenários que mto me envorgonha:

os modelitos dos meninos e das meninas...

das meninas em especial me preocupa bastante qdo...(termo usado por Nane Abdalla) elas se assemelham à "vendedora de loja de surf do centro": cabelos tingidos de três cores. calça bem justa (para aumentar o bumbum).detalhe que as cores pendem a ser azul turquesa e as blusinhas de um ombro só, na cor vermelha. sem contar os brincos de argola q são quase do tamanho de um bambolê. e o penteado? ai que vergonha! são dois filetinhos cuidadosamente encaracolados caindo sob a delicada e oleosa(devido a maquiagem 'leve')testa. finalizando o look... as botas de salto ortopédicos (mais conhecido como salto "anabela"). q variam de 30 a 50cm.

chega!

qto aos meninos:
regatas coladas costas nadador. corrente de cachorro no pescoço. calças justas(de 'grife' claro!). dançando que nem minhoca retorcida (achando que tá arrasando) e pra completar: chupando pirulito!
ai nao dá!

3:13 PM  
Blogger Ju said...

This comment has been removed by the author.

4:06 PM  
Blogger Ju said...

O sentimento mais recorrente na minha vida é a vergonha alheia. Sério! Tenho vontade de morrer de tanto desespero que isso me dá.

Porém, todo sábado me martirizo assistindo Celso Portioli. É o máximo. Eu adoro quando eles falam: "Eu gosto muito de balada, mas curto demais ficar em casa, sou bem caseiro". Como assim, porra! Uma coisa não anula a outra automaticamente?

Outro dia um rapaz que tinha todas as cores do mundo em suas roupas disse que adorava dançar PSICO e TECHNODANCE. Adoro! hahahaha

4:07 PM  
Anonymous Anonymous said...

O apice da vergonha alheia na minha vida foi assistir ao clipe da Sheila Melo - "Agua" no youtube.

8:02 AM  
Blogger DiegoFerrite said...

Hahaha, como o Polas diria: não passe vontade, passe vergonha. Mas as vezes as pessoas realmente exageram, como aquelas mulheres que vão trabalhar com um conjuntinho cor de rosa ou amarelo cheguei que parece estar ligado na tomada.

1:47 PM  

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