Thursday, October 25, 2007

NUNCA ATENDA O TELEFONE DE OUTRA PESSOA.

Triiim. Triiim. Triiim.

Sim, eu sei que não há telefones tocando, mas o simples fato de ler a onomatopéia acima, faz meu cérebro agir, enviando estímulos nervosos para minha mão que num incontrolável frenezi, busca um aparelho para atender.

Somos condicionados, assim como os jogadores de futebol que ao errar a meta, recoorem ao sinal da cruz.

Olha, poucas coisas no mundo me incomodam mais do que telefone tocando sem parar, sofrendo a indiferença dos seres ali presentes. Impossível não imaginar uma torturna chinesa onde o indivíduo é amordaçado e amarrado, bem no horário de pico, na cadeira de uma empresa de telemarketing cidadã, que contrata funcionários surdos, visando um abatimento no imposto de renda.

Vai me dizer que você nunca teve que atender o ramal de um colega de baia, celular de amigo do clube, ou linha PABX na casa de parente rico?

Pode ver. É sempre encrenca.

“Tirou do gancho, resolve!”. Essa é a mensagem escrita na lápide de Graham Bell, criador do telefone e da saboneteira de acrílico, além de primeiro dublador do Thundercat Pantro. Sim, era ele.

- Alô?
- Alê?

- Não, é o Plínio.
- O Alê não tá?
- Tá ocupado.

- Tá no banheiro?
- Acho que sim.


Não importa quem atenda, os problemas que as ligações sempre trazem serão automaticamente transferidos para a pessoa solícita que interceptá-la, sem direito a apelação no STJ.

- Posso deixar um recado?
- Melhor não.

Primeiro toque. O impulso é o de ignorar. A gente sempre acha que a chamada vai desaparecer logo na primeira tentativa. Vem a segunda, aguda e desafiadora. Você finge-se de bobo. Terceiro e quarto. Alguém olha de longe, bastante descontente com a sua inoperância.

- Atende, inferno!

Já era, meu querido. Sua mão transpira. Seu “alô” sai murmurado e carregado de má vontade, contrastando, e muito, com a alegria do interlocutor por ser atendido. É a mãe de um dos funcionários mais antigos da firma. Mães são sempre uma festa.

- Oi pinduca.
- Pinduca?
- Luiz Fernando, é você?
- Não. Quem gostaria de falar com o pind...., digo, Luiz?
- É a mãe dele. Mas que coisa, não? Ele nunca está na mesa. O que acontece nessa firma? Vocês tem rodinhas nos pés? Ah, deixa pra lá. Você sabe me dizer se ele conseguiu chegar a tempo no médico da pele, pra ver as manchas das costas?
- E ele tá com mancha nas costas, é? Não diga!

- Se tá! Tem uma que parece o mapa do estado de Alagoas.

A gama de assuntos é quase infinita. Numa ligação podemos ter desde um simples recado de “retornar pro Braga, contador”, até uma sessão de descarrego, onde você transforma-se num pinico coletivo, impossibilitado de desligar, graças a ameças infundadas no estilo carta-corrente: “se você desligar, dez parentes por parte de pai vão ligar dizendo o quanto você espichou”.

Por tudo isso, nunca atenda um telefonema que não seja pra você. Eu costumo nem atender os que são para mim. Se a vontade for mais forte do que você, procure ajuda, ou melhor, mande o seu currículo para aquela empresa de telemarketing. Tão contratando.

4 Comments:

Blogger Dine said...

Pior são as pessoas que não entendem que depois que tocou 10x e ninguém atendeu, não adianta ligar de novo..!!

5:31 AM  
Blogger yegustrepo said...

e se for o Marcião?

5:48 PM  
Anonymous Anonymous said...

Hahaha.
Muito bom.
Também escrevo uns textos. Quando puder, dá uma olhada lá.
http://polinesio.zip.net
Abraço

4:02 AM  
Blogger André Deak said...

Safadão! Quantos tempos!
Leio teu blog sempre. Esse texto - curioso - parece um que li agora num livro chamado E se um viajante numa noite de inverno, do Italo Calvino. (mas o dele é de 79...) De qualquer forma, o seu está melhor. Boa rapagão. Bolas pra frente! Apareça!

5:23 AM  

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