Wednesday, June 21, 2006

NUNCA MAIS PARTICIPO DE BOLÃO.

Lá se foi a primeira fase da Copa. Teve invasão de campo, poucas zebras e muitas “olas” mal organizadas, com aqueles gringos com cara de peru jogando os bracinhos para o alto de forma desajeitada. Que papelão. Esse tipo de coisa não fica bem no primeiro mundo.

Dessa vez, as grandes potências não decepcionaram, o que acabou com minhas esperanças no bolão que eu demorei a aderir, mas que no fim, me venceu.

Era impossível ficar de fora. Foi só ameaçar ignorá-lo para arrancar olhares de desprezo na firma, no prédio e no clube de campo. Bilhetinhos anônimos, talco no café, saleiro com a tampa desatarraxada, insultos e a gota d’água: um recadinho escrito na poeira do vidro do meu carro onde se lia “volta pra palestina árabe de cheiro forte”.

Tá bom. Eu participo.

Voltei, liguei meu computador e abri o Excel. Pela segunda vez na minha vida. A outra tinha sido no ano passado, por engano, enquanto tentava abrir discretamente um arquivo executável de nome o_rancho_da_sacanagem. Deixa pra lá.

A planilha estava ali. Imóvel, passiva, apenas esperando meus palpites. Resultados precisos, combinações improváveis de resultados, mata-matas e, no último quadradinho, o grande campeão. Eu apenas precisava chutar uma porção de números e observar bem na minha frente o milagre de uma Copa inteira decidida em minutos.

Comecei de forma tímida, arriscando placares previsíveis. Um a zero. Dois a um. Um a um. Zero a zero. Parei, pensei e me senti um palerma. Se é pra participar, melhor participar direito. Onde na regra diz que Togo não pode golear a França, ou que um empate de oito gols entre Irã e Angola é coisa de lunático?

Cometi muitos erros. Só apostei em zebras. Os placares, todos dilatados. Empates? Nenhum. Alguns resultados fariam inveja à NBA.

Aprendi uma lição valiosa: quanto mais colorido o uniforme, pior o time. Não caia no mesmo erro que eu.

Outra burrada. Apostar em times do leste europeu. Sei lá o que passou na minha cabeça. Kournikova, Bubka, Ivan Drago. Acreditei que o comunismo ainda podia produzir homens dotados de força sobre-humana, cobradores implacáveis de pênaltis, esmagadores de crânios de bandeirinhas mal intencionados. Que frustração. Viva a Coca-Cola, o McDonald’s e as Aerolineas Argentinas.

Por que chutei placares desse porte? Talvez porque eu odeie dividir prêmios. Na verdade eu odeio dividir qualquer coisa.

Uma vez, enfiei 5 bolachas recheadas na boca de uma só vez.

O importante é que o Brasil passou. Não convenceu, não jogou bem e ficou devendo. Mas e daí? Por que o alarde? Quer espetáculo? Vende o seu Corcel 2 e vai comprar ingressos pro Cirque du Soleil que tá chegando por aqui.

Odeio quem acha que futebol brasileiro é ver o Ronaldinho dando cambalhota com a bola presa entre as pernas, o Robinho equilibrando espetos em brasa enquanto cobra escanteios e o Zagallo tocando brasileirinho assoprando num pente. Odeio também quem acha que árabe é tudo Palestino. Pela última vez: eu sou libanês.

Monday, June 12, 2006

SÓ ASSISTO PELA GLOBO.

Pra mim, não existe assistir jogo do Brasil em outro canal que não a Globo.

Falem o que quiserem, critiquem, resmunguem. Todo mundo roda os canais e acaba voltando pro cinco, como eu gosto de chamar a emissora dos Marinho.

A imagem é melhor, o som é melhor, as vinhetas são melhores. Adoro quando entra aquela voz aveludada dizendo “Raider; Davene; Itaú e Havaianas, as legítimas”. Não sei se é a mesma que grita Brasil quando sai gol, outra marca registrada.

Galvão Bueno: na minha opinião, o melhor narrador em atividade. Com todos os erros, com todos os erres, com toda a mania de saber mais do que todo mundo. Isso faz da narração dele um clássico. Ele te irrita? Então porque você não pára de assistir? Muda de canal, tira o volume, vai até o cartório autenticar uns documentos. Dizer que odeia ele é um grande clichê.

Ele é mestre em sacar termos idiotas, nunca acerta o tempo de voltar dos intervalos com o exclusivo “bem amigos da Rede Globo”, não sabe dar o nó na gravata e, nos dias quentes, só usa a parte de cima do paletó. Está sempre bronzeado e só muda a armação dos óculos de quatro em quatro anos.

Sabe um pouco sobre cada esporte, e, quando não sabe, inventa com categoria. Narra de Fórmula 1 a cerimônia de abertura de jogos de inverno, prato cheio pra inventar sem o menor risco de ser desmascarado, encaixando comentários enquanto a delegação italiana desfila, por exemplo: “Grande Giusepe Maximiliano. Capitão de três olimpíadas. Esse sabe tudo e mais um pouco”.

Como contraponto possui fiéis escudeiros dentro da cabine.

Arbitragem é sempre um assunto para Arnaldo César Coelho. Ele sabe o nome de todos os juízes, bandeirinhas e quartos árbitros em quatro continentes, menos a Oceania. Parece muito com aquelas criancinhas precoces que decoram todas as capitais do mundo. Agora, convenhamos, é muito mais legal saber que o juiz mexicano Marco Rodrigues é conhecido na Concacaf como o pequeno Drácula, do que saber que a capital de Lichtenstein é Vaduz. Grande Arnaldo.

Talvez por isso o Galvão trate ele como uma criança, sempre cortando suas falas com um irônico “Que que é Arnaldo?”. Outro dia, Galvão pediu para ele analisar as cores do uniforme do trio de arbitragem. Estavam todos com camisas amarelas fluorescentes: “Em gírias carnavalescas, cafona”. “Tá certo, Arnaldo”.

Para completar o trio maravilha temos o sempre afiado Casagrande. Cabelo desgrenhado, paletó amarrotado, cumpridão e sem postura. Fala o que pensa, fica puto, reclama, não concorda e está sempre com aparência de bêbado. Gosta dos jogadores que batem com as duas pernas, elogia demonstrações de liderança e vive no passado, num tempo glorioso onde encantava a torcida, ora com seus gols de oportunismo, ora com seus shorts sempre curtinhos e justos na coxa.

O Falcão fica sem nota. Acho ele um mala. Sua testa começa na nuca. Parece o Robocop sem o capacete. Têm também aqueles outros. Marcília, Wright, que se fala Vráite, Noronha, e mais um punhado de pseudo-especialistas.

As reportagens de campo ficam por conta do Mauro Naves e Abel Neto. Acabo de perceber que tenho facilidade para decorar nome de jornalista: Tramontina, Pinheiro, Kozlowski, Canuto.

Eu não arrisco ver em outro canal e não estou ganhando nada para fazer a divulgação. Se o cara da voz das vinhetas me ligar agradecendo pelo elogio, já fica de bom tamanho.