Monday, February 08, 2010

JÁ FUI ATROPELADO POR UMA MOCHILA DE RODINHAS.

Dane-se o seu pé. Nada pode atrasar um maldito workaholic de chegar ao seu destino e conectar sua máquina à rede elétrica.

Para esse tipo de ser humano, um notebook fora da energia é como uma picanha viajando fora do isopor, escondida ilegalmente com alguns imigrantes, no trem de pouso de uma aeronave rumo a Frankfurt.

Joanetes e calcanhares estão à beira de criarem um sindicato e marcharem para Brasília em busca de seus direitos. As mochilas de rodinhas estão se multiplicando e já podem ser consideras uma pandemia.

- Laís, você viu minha nova mochila de rodinhas?
- Nossa, é bárbara! Esse silk com a cara da Natália do Valle é um charme. Quanto custou?
- Nada, ganhei na “dança da cadeira premiada” da Kalunga.

“Já fui atropelado por uma mochila de rodinhas”. Se você é coxinha o bastante para colar um desses no seu mocassim, talvez tenha merecido o ocorrido. Mas, se odeia a colinha que os adesivos costumam deixar, como eu, talvez mereça todo o apoio do Estado num atropelamento corporativo desse porte.

Sinto falta de um órgão regulador, como o pâncreas (ô nome tesão!) capaz de frear o correr-corre das rodinhas do tipo gelatinoso. Como nas leis que regem a CNH, o sistema de pontuação deveria ser adotado.

Atropelamento no elevador, 3 pontos. Na aula de pilates, 5 pontos. Na primeira comunhão do Helinho, 7 pontos. Ao atingir 21, o infrator perderia o direito de arrastar o notebook por aí e o de usar o crachá da firma dentro do bolso na praça de alimentação.

- Assis, com 60 anos nas costas, você não se sente meio besta puxando esse carrinho por aí?
- Mas eu não tive escolha. Abri a porta de casa e lá estava ele, tão frágil, largado, repousando dentro de um bercinho de vime, junto ao pedido: “me leve trabalhar”.
- Sei, sei. E você já tomou o seu remédio hoje?
- Iiih, até você?

Quem gostou da idéia e retomou forte ao mercado foi uma gigante do nylon, a Risca. Quem nunca teve uma mochila dessa marca? O segundo bolso costumava ter espaço para lápis, agendas e grandes confusões (vergonha dessa parte).

E a Le Postiche? Decidiram até tirar a Suzy Rego do tanque de salmoura para comunicar as liquidações em rede nacional.

- Papai, aonde você vai com essa mochila de rodinhas.
- Vou me divertir a valer, filhão.
- Posso ir junto?
- Claro. Pegue sua melhor roupa de sarja infantil, o BlackBerry, e vamos viver!
- Obaaa!

O mundo está ficando chato, e perigoso. Segundo o pedicuro, Darcy dos Santos, da clínica “Meu pé de laranja lima”, o número de clientes triplicou. Segundo ele, os casos mais comuns são os de unhas quebradas, cutículas dilaceradas e até pequenas luxações. O número de pacientes pedindo o implante de mini-torres Eiffel no lugar dos dedos também aumentou, mas isso não tem nenhuma ligação com o resto.

Se você é um feliz proprietário dessas mochilas, na certa deve estar dado de ombros. Como em tudo na sua vida. Típico.

Pois saiba que, para todos vocês, imagino um final vergonhoso e desmoralizante: ouve-se uma forte freada, seguida de gritos. Alguém dispara: “mas eles são microscópicos, e estão vivos!”. Temos um clarão. Em seguida, a câmera mostra as rodinhas, envoltas numa solução bege, bem clarinha. Aos poucos o plano abre e podemos ver toda a mochila. Nela, um adesivo sentencia: já fui atropelada por um carrinho de Yakult.

3 Comments:

Blogger International Learning Center said...

E eu que reclamava das Babushkas sacoleiras de Moscou. Que vergonha! Aquilo era massagem para o tendão de Aquiles perto dessas mochilas assassinas! Onde está a sociedade protetora dos calcanhares quando mais precisamos?
PS Leia mais sobre o tema acima em breve...

9:04 AM  
Anonymous Anonymous said...

É verdade. Corretor de imóveis consegue ser mais chato do que vendedor de filtro Europa. Mas o que fazer quando queremos encontrar nosso tão sonhado "apê"?
A propósito, pode me passar o telefone do Ananias?
Amaury Goulart

4:46 PM  
Blogger R.S.M. said...

Eu já quebrei o maior pau aqui no Rocha por causa de um desses coxinhas idiotas.

2:16 PM  

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