GARÇOM AMIGÃO. VOCÊ AINDA VAI SER ATENDIDO POR ELE.
Ele chega, faz uma breve saudação e te deixa na embaraçosa situação de ter que tomar uma decisão delicada.
Sim, estou falando do garçom, o profissional do atendimento que possui diversas facetas, postura elegante e o dom de equilibrar pequenas pirâmides na ponta dos dedos.
Fato é: de tanto serem chamados de “amigo”, por usucapião tornaram-se, de fato, amigos inconvenientes. Desculpem o rigor, mas garçom que cruza a linha invisível da intimidade enche o saco.
- Amigão, tá demorando meu prato.
- Por que a pressa? Você não tá esperando a Geni?
- Tô, mas como você sabe?
- Não era com ela que você tava no celular?
- Era mas...
- Inclusive, achei seu tom cínico demais. Algum problema em casa?
Eles ouvem, palpitam, aconselham, riem das suas piadas. Interagem, tiram péssimas fotos panorâmicas, assopram a colher da sua sopa sem serem solicitados. Pelo visto andam ensinando coisas a mais no curso profissionalizante do SESI.
- Gilmar?
- Aqui!
- O que podemos concluir do módulo de hoje?
- Que devemos nos intrometer de montão e rir da piada do cliente mesmo que ela seja mais manjada que as do Hubert e Cia.
Em recente pesquisa encomendada ao Instituto Gallup, os números assustaram. No último ano, homens casados, classe AB, assinantes de TV a cabo, gastaram mais tempo conversando com garçons simpaticões do que com as esposas.
- Não acredito que você chamou ele pra passar o ano novo com a gente.
- Mas ele é tão simpático.
- Mas ele só te serviu uma coca e um cheeseburger.
- Não sei, ele tinha algo no olhar.
Por mais rápido que seja, esse olho no olho pode ser a diferença entre sossego e companhia para o resto da refeição, em muitos casos, para o resto da vida.
- Esse cara ainda tá aqui, Maranhão.
- Não consigo dispensá-lo.
- É só pedir pra fechar.
- Queria que fosse simples assim...
Entre a primeira e a segunda garfada. Entre a mordida e o gole. Lá estará ele, tentando desesperadamente fincar a bandeira da proximidade, acorrentar-se ao assunto e, como um trombadinha saído dos anos 80, grudar até tirar tudo o que você tiver.
- Ele não te merece.
- Alguém pediu a sua opinião?
- Na verdade, meus 10% incluem esse tipo de serviço.
- Então faz favor de tirar o serviço.
- Impossível. Já estou muito envolvido.
- Envolvido? Você só me trouxe o couvert. Se liga!
- Entre o pedido e a cozinha existem coisas que até o maitre duvida.
- Meu, na boa? Cala isso que você chama de boca.
Mas infinitamente pior do que os garçons clássicos, de colarinho branco e borboleta preta, são os garçons descolados com linguajar Malhação e botons espalhados pelo corpo. Falam inglês, usam mousse no cabelo, deslizam pelo salão, e possuem o péssimo hábito de ajoelharem-se bem pertinho de você, como se quisessem abraçá-lo para tirar uma foto de time. (agachados, da esquerda para a direita: Tuca, Vandinho, Pepeu, Alencar, e garçom Gomes)
- Não, eu não sou seu amigo, não gosto do seu tom de voz, tão pouco, do jeito que você digita todo rapidinho nesse Palm. Não seja besta de me tocar o ombro novamente.
- Eu compreendo. Posso incluir o serviço mesmo assim?
- Pode vai.
- E te procurar no Facebook?
3 Comments:
Hahahahahahahahaha, gênio!
Como não lembrar do lendário Papa-capim?
Me arrependi amargamente de ter ensinado inglês pro Gomes. Com um papinho cheio de "bossa" ele acabou saindo com a turista canadense que eu estava cantando outro dia!
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