Tuesday, November 16, 2010

O MUNDO É DOS PELADOS.

Todo homem, enquanto menino, sonha ansiosamente com o dia em que os primeiros pêlos aparecerão em seu corpo juvenil. Mente quem diz o contrário.

Pêlos em abundância significam masculinidade, tônus, pujança, equilíbrio, fartura, virilidade, e poder, entre outras coisas.

Na minha pré-adolescência, pernas cabeludas eram tão desejadas quanto fortuna, Luciana Vendramini e o Escort XR3 conversível.

Bastava eles começarem a aparecer, e tudo mudava.

- Passa a chave, coroa.
- Mas, Lukinha, você só tem 11 anos.
- Mas muitos corações para conquistar.
- E aquele papo de seguir seminário?
- Perdeu o sentido quando o gato do Frei Altamir saiu.

Braços, pernas e rosto – nos planos pré. Peito, nuca e pálpebras – nos planos pós. A ordem de nascimento varia de homem pra homem, mas quando começa, nada pode detê-lo, nem mesmo a Tiazinha que a essa altura já virou Tiazona e se arrepende amargamente de não ter feito previdência.

- Mas mãe, todos os meninos da classe já rasparam.
- Mas você é diferente.
- Pois é. Por isso tô sofrendo bullying.

O bigodinho de office-boy marcou geração. Lembro da minha mãe proibindo meu irmão de raspar o buço para que não engrossasse. Resultado: registros fotográficos constrangedores guardados nas gavetas de cerejeira da sala.

- Ai Cacau, vai com o Dudu. Ele é herdeiro da Sulfabril.
- Mas o Rafinha já tem pelinho lá embaixo.
- Como você sabe.
- Acabou de twittar.
- Que fooofooo!!!

O nascimento dos pêlos na região pélvica, ex-Iugoslávia, pode ser considerado o “virou mocinha” dos meninos. É o Autoconfiança Day que vira Achincalhação Day no primeiro simpósio dominical da família.

- Gente, gente, gente. Um minuto da atenção, por favor! É com imenso orgulho que anuncio que o anjo da puberdade visitou a virilha do nosso Juninho soprando esperança e fiozinhos dourados por lá.

Uns pedem pra ver. Outros, pra nunca mais serem convidados. Tia Silvia busca o pudim. Tio Cassiano junta a velha guarda e planeja uma visita ao cabaré.

Quando a festa do nascimento capilar chega ao sovaco, o ritual é outro. E dá-lhe camiseta regata e braço para cima no busão, mesmo quando se está sentado.

- Ô moleque. Baixa esse braço.
- Eu? Por quê?
- Porque ninguém é obrigado a ver de perto esse jogo de futsal.
- Jogo de futsal?
- É, cinco pra cada lado.
E todos riem gostoso no coletivo, todo fechado, e cheio de vapores, enquanto chove lá fora.

Por fim, mas não menos importante, a região peitoral. Pêlos no tórax mostram definitivamente que o Toni virou Ramos. É hora de caçar, abater e procriar.

Mas, como tudo na vida, até isso está mudando. Peludos e sapatos de camurça não são mais bem vindos. Humberto Martins, ícone da categoria, está virando artigo de museu.

Vivemos a cultura do “pêlos, por que tê-los?”. E, cada vez mais, nosso elo ancestral com o homo-sapiens dá lugar ao elo com o homo-lisinhos-franjadus-golaV-coloridus.

Mesmo assim, se você, assim como eu, não se enquadra no novo modelo de beleza nacional, tudo bem. Com a economia de gilete, Veet cera fria e tosa higiênica, dá pra voltar a sonha com o Escort XR3 conversível.

2 Comments:

Blogger Mario Mendes said...

Texto virado na referência! Adorei! Hahahahahahaha!
E mesmo não tendo essa profusão de pelos toda (por cagada da natureza, não porque aderi ao Depileid), tô contigo e não abro! Tirando quando é necessário passar protetor solar em costas muito amazônicas, sejamos naturais (mas que dê pra enxergar o pipi no meio da Mata Atlântica, por favor).

5:36 AM  
Blogger Pimenta said...

Seu Abdalla, não sei quem é o senhor, nem sei como parei aqui, ma sem dúvida,volto sempre!
Bjos de uma perdida.

10:56 PM  

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