Tuesday, August 12, 2008

CHATICE POR QUILO.

Se alguém do Censo, se é que eles existem, chegasse em você para pesquisar quem é a pessoa mais chata do país, você teria uma resposta na ponta da língua?

Eu sim: o cara da frente na fila do restaurante por quilo. Não existe ser humano mais inoportuno.

Garfos tornam-se lanças. Ovos de codorna, munição. E a vontade de matar só não supera a de comer uma friturinha.

Como todos sabem, hora de almoço corporativa é aquela coisa: o estouro da manada dos executivos de sarja encontra a enfurecida tribo crachá no bolso, provocando uma pororoca empresarial de residual barrento. Sempre pinta um oriental tirando foto. Que chato!

Fome, pressa, aglomeração, cigarro, celular. Todos os credos, todas as cores, todos os assuntos que nem eu, nem você, faz a menor questão de interagir.

- Dá oi pro moço, filho.
- Mas ele tá de gola olímpica, mãe.
- Então devolve o bolinho de queijo.

Gordos de dieta, magros vegetarianos, a turma do pastel no topo, a da saladinha e “só um salmãozinho”, e a moral e os bons costumes ficam de fora da pesagem.

- E aí campeão, será que dessa couve sai ouro?
- Olha, tá difícil, viu. (e solta uma risada meio débil)
- Então agiliza.

O chato do quilo, também conhecido como aspargo sem caule, é aquele que, de posse de um pegador de inox, sente-se num filme nacional de estética árida, garimpando pepitas inexistentes em plena Serra Pelada. Cada folha é meticulosamente escolhida, cada bolinho deve ser “sentido” com o pegador até que o conjunto textura, firmeza e falsete de “A majestade o sabiá” agradem ao seletivo consumidor.

Tanta demora e zelo no momento da composição do prato acabam contribuindo para a criação de espaços vagos entre o cara e o consumidor logo à frente, muito tentadores para ultrapassagens. Mas basta que você esboce sair do vácuo para que o infeliz feche a porta, numa bela manobra que não só te tira do sério como também faz a torta de espinafre escorregar para fora do prato, entrando em contato com a bandeja de plástico, tornando-a imediatamente, imprópria para o consumo. Muito chato.

Arroz, feijão, picanha velha disfarçada no alho, fritas, mandioca, polenta, filé de peito de frango (sobre-coxa engorda), volta pra pegar mais fritas, tomate cereja, palmito, um sushi do tamanho do bocal do escapamento de uma Belina, shoyo por cima de tudo, panquequinha de presunto e queijo, macarrão com brócolis, fricassé de alguma coisa, quiche, volta pra pegar mais tomate cereja e colocar molho de mostarda. O que começa dando gosto de ser ver, termina embrulhando o estômago do atendente no momento da pesagem.

- Aceita ticket?
- Você vem aqui todo dia e ainda não sabe essa resposta?
- Quanto custa a palha italiana?
- O mesmo preço de ontem.
- Quanto pesa só o prato?
- 800 gramas.
- Fi-li-zo-la. Mas eu jurava que era com dois “l” e dois “z”.

Se dá pra ficar mais chato que isso? Claro, basta o cara estar de sarja, com o crachá para dentro do bolso e trabalhar no Censo. Sim, eles existem e adoram bater perna em restaurantes por quilo.

2 Comments:

Blogger Paloma de Montserrat said...

Voce traduziu muito bem a minha raiva

12:21 PM  
Anonymous Anonymous said...

Admito que meu pedaço de torta sempre escapa do prato quando tento a ultrapassagem entre o feijão e os grelhados requentados de três dias.

Aí a porra do papel fica transparente de tanto óleo e eu tenho a certeza de que morreirei jovem e do coração.

Triste, mas verdadeiro.

Obrigado, Mago.

2:50 PM  

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