O BÁSICO PEDE SOCORRO.
Não sou a pessoa mais indicada para escrever sobre moda, nem sobre doenças do labirinto, mas o incômodo que o primeiro tema anda me causando não me deixou escolhas.
Após décadas de maturidade e monopólio, jeans e camiseta deixaram de ser itens básicos na gaveta do brasileiro.
Para constatar, basta uma simples caminhada por aí. O que se vê é um desfile de bolsos, zíperes transados, bordados e todo tipo de customização que embrulha o estômago só de lembrar.
- Olá, posso ajudar?
- Estou procurando um jeans.
- Esse com zíper longitudinal e banho de madrepérola na barra chegou hoje.
- Mas eu queria um mais basiquinho mesmo.
- Olha, o mais básico da loja tem sete bolsos e tachinhas na lateral, pode ser?
Do jeito que a coisa vai, os bolsos (e não a bolsa, como sempre imaginamos) é que vão levar o mundo à terceira grande guerra.
E nessa tsunami de tecido desnecessário, vale tudo para garantir o melhor que a onda pode oferecer: bolso falso, bolso canguru, bolso interno. Bolso sem fundo, bolso crocodilo, bolso família.
Para que diabos eu preciso de tantos compartimentos sobre as minhas pernas?
- Ei! Tá ligado o bolsão de trás?
- Quem, aquele folgadão?
- Ele mesmo. Não quero fazer fofoca, mas tão dizendo que ele anda mais na moda do que você.
- É, mas ele nunca vai ter dois zíperes e bordado gótico.
- É, isso lá é verdade. Vida longa ao rei!
É claro que um bolso nunca vem sozinho. Salmos, números colossais, frases de novela, piadas de salão. O lema é misturar o máximo de referências possíveis e costurar tudo juntinho sobre uma superfície de brim.
- Nossa, acho que engordei.
- Será que não é por causa desse monte de zíper da sua calça?
- Ah é, bem lembrado.
E não é só o jeans que anda sofrendo com essa era do exagero. O que aconteceu com as camisetas básicas brancas?
Sai o simples, entra o exagero. Sai o liso, entra o “efeito crepom amassado”. Sai a gola redonda, entra aquela em V até o umbigo.
Indústria da moda e do carnaval numa parceria nunca antes vista traduzem os malefícios nocivos do exagero e do desperdício: couro, brilhos, decalques, transparências, negativos de fotos, latinhas recicladas, vela derretida.
Imagino o quanto sofrem peças mais caretinhas durante o balé da centrifugação na máquina.
- Ah, não entro nessa máquina com esse jeans nem ferrando.
- Ih, qualé? Preconceito agora com o brow?
- Esses bolsos, esses brilhos, esse... esse... linguajar... Da última vez esse seu zíper decepou a manga daquela linda camisa floral.
- E ela se tornou uma bela regata.
- É, e agora compete na paraolimpíada da Sulfabril.
Pelo visto, nesse novo mundo onde o básico perdeu a vez, a única esperança que resta ao saudoso Hans Humboldt Hering, é transformar suas lojas conceito em museus. Na certa, vai continuar enchendo o bolso.
Após décadas de maturidade e monopólio, jeans e camiseta deixaram de ser itens básicos na gaveta do brasileiro.
Para constatar, basta uma simples caminhada por aí. O que se vê é um desfile de bolsos, zíperes transados, bordados e todo tipo de customização que embrulha o estômago só de lembrar.
- Olá, posso ajudar?
- Estou procurando um jeans.
- Esse com zíper longitudinal e banho de madrepérola na barra chegou hoje.
- Mas eu queria um mais basiquinho mesmo.
- Olha, o mais básico da loja tem sete bolsos e tachinhas na lateral, pode ser?
Do jeito que a coisa vai, os bolsos (e não a bolsa, como sempre imaginamos) é que vão levar o mundo à terceira grande guerra.
E nessa tsunami de tecido desnecessário, vale tudo para garantir o melhor que a onda pode oferecer: bolso falso, bolso canguru, bolso interno. Bolso sem fundo, bolso crocodilo, bolso família.
Para que diabos eu preciso de tantos compartimentos sobre as minhas pernas?
- Ei! Tá ligado o bolsão de trás?
- Quem, aquele folgadão?
- Ele mesmo. Não quero fazer fofoca, mas tão dizendo que ele anda mais na moda do que você.
- É, mas ele nunca vai ter dois zíperes e bordado gótico.
- É, isso lá é verdade. Vida longa ao rei!
É claro que um bolso nunca vem sozinho. Salmos, números colossais, frases de novela, piadas de salão. O lema é misturar o máximo de referências possíveis e costurar tudo juntinho sobre uma superfície de brim.
- Nossa, acho que engordei.
- Será que não é por causa desse monte de zíper da sua calça?
- Ah é, bem lembrado.
E não é só o jeans que anda sofrendo com essa era do exagero. O que aconteceu com as camisetas básicas brancas?
Sai o simples, entra o exagero. Sai o liso, entra o “efeito crepom amassado”. Sai a gola redonda, entra aquela em V até o umbigo.
Indústria da moda e do carnaval numa parceria nunca antes vista traduzem os malefícios nocivos do exagero e do desperdício: couro, brilhos, decalques, transparências, negativos de fotos, latinhas recicladas, vela derretida.
Imagino o quanto sofrem peças mais caretinhas durante o balé da centrifugação na máquina.
- Ah, não entro nessa máquina com esse jeans nem ferrando.
- Ih, qualé? Preconceito agora com o brow?
- Esses bolsos, esses brilhos, esse... esse... linguajar... Da última vez esse seu zíper decepou a manga daquela linda camisa floral.
- E ela se tornou uma bela regata.
- É, e agora compete na paraolimpíada da Sulfabril.
Pelo visto, nesse novo mundo onde o básico perdeu a vez, a única esperança que resta ao saudoso Hans Humboldt Hering, é transformar suas lojas conceito em museus. Na certa, vai continuar enchendo o bolso.