POR MOTIVOS DE FORÇA MAIOR, NÃO ACEITAMOS CHEQUES.
Não é a primeira vez que volto de um estabelecimento com a pulga e o percevejo atrás da orelha.
Está escrito, geralmente à mão, e em letras garrafais, para que todos possam ler antes mesmo de consumir que, naquele estabelecimento, cheques, tocadores de realejo e funcionários da Caixa não são bem vindos.
A tecnologia e os crimes do colarinho branco (adoro este nome) estão aposentando precocemente o cheque, esta mágica nota promissória que sempre nos concedeu, mesmo que momentaneamente, ares de burguesia.
- Rapaz, diz que esse aí é dono de metade dos bois de Anápoles.- Gente fina. Aprumado. Parece que tem estudo no estrangeiro.
O talão de cheques reúne em sua prática forma retangular atributos inegáveis de um produto que deveria sobreviver para sempre, assim como o Leo Batista. Vamos a eles: a) folhas que se destacam. Quem não gosta disso, boa gente não é; b) lugar demarcado para a sua assinatura, e a de mais ninguém. Aquela mesma assinatura treinada à exaustão no papelzinho de recados, logo ao lado do telefone; c) o ato de cruzar, que nos confere a sensação de poder ao veto do saque imediato. Duas linhas em diagonal, firmes e paralelas dizendo ao sacador: “ei, empadão? Saque apenas daqui a dois dias”.
Uma gloriosa história de financiamentos de sonhos, interrompida por um aviso contundente: por motivos de força maior, não aceitamos cheques.
Quem sou eu para questionar a decisão? Dono é dono. Faz a lei conforme a previsão do tempo. O que me intriga mesmo é o termo “forças maiores”.
Seriam elas, parte de um poder maçom envolvendo proprietários, misticismo e seres da floresta, não utilizados nas porções lá servidas?
Seriam forças eletromagnéticas capazes de levar o local à falência caso algum cheque pernoitasse na caixa registradora?
Seria uma força tarefa? Uma força expedicionária, bruta ou de busca?
Por acaso, existem forças menores?
Cozinheiros abduzidos. Caixas desaparecidos. Garçons com o dedo indicador do pé maior do que o polegar.
- Grande! Posso falar com o gerente?
- Lamento, ele não se encontra.
- Chama então a tal entidade das forças maiores.
- Prefiro não falar sobre isso.
Concordo que a inadimplência no país é alta. Sim, todos estão sujeitos a cheques sem fundo, voadores, vai-e-vem, como queira. Sempre foi assim. Mas e daí?
Sou cético. Não posso aceitar que uma força invisível decida a forma de pagamento por mim.
Já, já, vai ter bar e restaurante dizendo: por motivos de força maior, pedimos aos senhores clientes, que falem estritamente o necessário, mastiguem de boca fechada, façam o sinal da cruz antes, durante e depois o processo de pagamento e, ao sair, em hipótese alguma, olhem para trás.
Como reagir? Pare de freqüentar tais estabelecimentos proibitivos. Essa sim é a tal força maior. Xeque-mate. (não resisti).
Está escrito, geralmente à mão, e em letras garrafais, para que todos possam ler antes mesmo de consumir que, naquele estabelecimento, cheques, tocadores de realejo e funcionários da Caixa não são bem vindos.
A tecnologia e os crimes do colarinho branco (adoro este nome) estão aposentando precocemente o cheque, esta mágica nota promissória que sempre nos concedeu, mesmo que momentaneamente, ares de burguesia.
- Rapaz, diz que esse aí é dono de metade dos bois de Anápoles.- Gente fina. Aprumado. Parece que tem estudo no estrangeiro.
O talão de cheques reúne em sua prática forma retangular atributos inegáveis de um produto que deveria sobreviver para sempre, assim como o Leo Batista. Vamos a eles: a) folhas que se destacam. Quem não gosta disso, boa gente não é; b) lugar demarcado para a sua assinatura, e a de mais ninguém. Aquela mesma assinatura treinada à exaustão no papelzinho de recados, logo ao lado do telefone; c) o ato de cruzar, que nos confere a sensação de poder ao veto do saque imediato. Duas linhas em diagonal, firmes e paralelas dizendo ao sacador: “ei, empadão? Saque apenas daqui a dois dias”.
Uma gloriosa história de financiamentos de sonhos, interrompida por um aviso contundente: por motivos de força maior, não aceitamos cheques.
Quem sou eu para questionar a decisão? Dono é dono. Faz a lei conforme a previsão do tempo. O que me intriga mesmo é o termo “forças maiores”.
Seriam elas, parte de um poder maçom envolvendo proprietários, misticismo e seres da floresta, não utilizados nas porções lá servidas?
Seriam forças eletromagnéticas capazes de levar o local à falência caso algum cheque pernoitasse na caixa registradora?
Seria uma força tarefa? Uma força expedicionária, bruta ou de busca?
Por acaso, existem forças menores?
Cozinheiros abduzidos. Caixas desaparecidos. Garçons com o dedo indicador do pé maior do que o polegar.
- Grande! Posso falar com o gerente?
- Lamento, ele não se encontra.
- Chama então a tal entidade das forças maiores.
- Prefiro não falar sobre isso.
Concordo que a inadimplência no país é alta. Sim, todos estão sujeitos a cheques sem fundo, voadores, vai-e-vem, como queira. Sempre foi assim. Mas e daí?
Sou cético. Não posso aceitar que uma força invisível decida a forma de pagamento por mim.
Já, já, vai ter bar e restaurante dizendo: por motivos de força maior, pedimos aos senhores clientes, que falem estritamente o necessário, mastiguem de boca fechada, façam o sinal da cruz antes, durante e depois o processo de pagamento e, ao sair, em hipótese alguma, olhem para trás.
Como reagir? Pare de freqüentar tais estabelecimentos proibitivos. Essa sim é a tal força maior. Xeque-mate. (não resisti).