ZÉ GOTINHA E O FIM DA PICADA.
Dias atrás fui obrigado a tomar esta nova vacina contra sarampo, rubéola, ou sarna, não lembro do motivo, só sei que fiquei muito incomodado.
Para completar, após a aplicação da injeção, fui alvo de duras críticas por parte de minha mãe e minha namorada, que se uniram para blasfemar contra a categoria masculina. Segundo elas, todos os rapazes que saíam do posto de saúde ostentavam caras de dor, mangas erguidas e um pedaço de algodão, estancando a perfuração, enquanto as mulheres, tranqüilas e serenas, apenas sorriam, como se tudo não passasse de uma grande festa.
- Homem é muito dramático! (gritavam enquanto pegavam autógrafos do Zé Gotinha).
Injeção é uma dessas coisas que me provoca repulsa, assim como estabelecimentos que colocam apóstrofe “s” no nome.
O reclame na TV confirma: homens, mulheres, jovens, adultos e pessoas de nomes híbridos, como José Maria, devem ser vacinadas. Se você estiver nessa malha fina da seringa, prepare o bracinho, neném.
- Moço, pode ser no bumbum?
- Lamento, não podemos aplicar na nádega.
- Vocês também não podem falar bunda, traseiro ou popança?
- Infelizmente, não. É lei federal.
Quem eles pensam que enganam com aquele algodãozinho embebido em álcool? Para mim, essa é a parte mais tensa. Um momento de angústia e expectativa semelhante ao que acontece quando aguardamos o vendedor da loja de calçados retornar do estoque dizendo se tem ou não o tênis do seu tamanho.
- Mas eu tenho mesmo que tomar essa, mãe?
- Tem. Veste logo a blusa, calça o tênis e vamos.
- Mas por quê? Coqueluche não é o mesmo que chique, sofisticado...
- Quer que eu peça pro médico aplicar na sua língua?
José Gotinha? Esse pra mim é o líder da corja. Com seu sorriso carregado de cinismo e sua pele branquinha vai nos convencendo desde pequenos que campanha de vacinação é legal. Justo ele, promessa marketeira do fim das agulhas. Traíra.
Meningite, febre amarela, gripe espanhola. Peste bubônica, lepra, mal de chagas. Tétano, dengue, costeleta do Menem.
O número de desgraças é tão grande que já tem jornal distribuindo fascículos colecionáveis e capa dura nas edições dominicais. “Esta semana: ébola, no país do futebol”.
- Doutor, essa dói?
- Só uma picadinha.
- Devo lembrar que esta ligação está sendo gravada.
- Ok. Dói pra caralho.
Com tudo isso, ainda me orgulho de ser o detentor do recorde de escândalo no consultório do Doutor Ricardo, pediatra da família, quando três médicos, uma enfermeira, um medalhista olímpico da esgrima e uma mãe foram necessários para me deter no momento da aplicação.
Assim termina a festa da vacinação em todo o território nacional, com um cidadão anônimo dentro de uma fantasia felpuda, cegado por uma enorme cabeça em forma de gota, segurando recém nascidos apenas com uma mão, enquanto acena para o público com a outra. É o fim da picada.
Para completar, após a aplicação da injeção, fui alvo de duras críticas por parte de minha mãe e minha namorada, que se uniram para blasfemar contra a categoria masculina. Segundo elas, todos os rapazes que saíam do posto de saúde ostentavam caras de dor, mangas erguidas e um pedaço de algodão, estancando a perfuração, enquanto as mulheres, tranqüilas e serenas, apenas sorriam, como se tudo não passasse de uma grande festa.
- Homem é muito dramático! (gritavam enquanto pegavam autógrafos do Zé Gotinha).
Injeção é uma dessas coisas que me provoca repulsa, assim como estabelecimentos que colocam apóstrofe “s” no nome.
O reclame na TV confirma: homens, mulheres, jovens, adultos e pessoas de nomes híbridos, como José Maria, devem ser vacinadas. Se você estiver nessa malha fina da seringa, prepare o bracinho, neném.
- Moço, pode ser no bumbum?
- Lamento, não podemos aplicar na nádega.
- Vocês também não podem falar bunda, traseiro ou popança?
- Infelizmente, não. É lei federal.
Quem eles pensam que enganam com aquele algodãozinho embebido em álcool? Para mim, essa é a parte mais tensa. Um momento de angústia e expectativa semelhante ao que acontece quando aguardamos o vendedor da loja de calçados retornar do estoque dizendo se tem ou não o tênis do seu tamanho.
- Mas eu tenho mesmo que tomar essa, mãe?
- Tem. Veste logo a blusa, calça o tênis e vamos.
- Mas por quê? Coqueluche não é o mesmo que chique, sofisticado...
- Quer que eu peça pro médico aplicar na sua língua?
José Gotinha? Esse pra mim é o líder da corja. Com seu sorriso carregado de cinismo e sua pele branquinha vai nos convencendo desde pequenos que campanha de vacinação é legal. Justo ele, promessa marketeira do fim das agulhas. Traíra.
Meningite, febre amarela, gripe espanhola. Peste bubônica, lepra, mal de chagas. Tétano, dengue, costeleta do Menem.
O número de desgraças é tão grande que já tem jornal distribuindo fascículos colecionáveis e capa dura nas edições dominicais. “Esta semana: ébola, no país do futebol”.
- Doutor, essa dói?
- Só uma picadinha.
- Devo lembrar que esta ligação está sendo gravada.
- Ok. Dói pra caralho.
Com tudo isso, ainda me orgulho de ser o detentor do recorde de escândalo no consultório do Doutor Ricardo, pediatra da família, quando três médicos, uma enfermeira, um medalhista olímpico da esgrima e uma mãe foram necessários para me deter no momento da aplicação.
Assim termina a festa da vacinação em todo o território nacional, com um cidadão anônimo dentro de uma fantasia felpuda, cegado por uma enorme cabeça em forma de gota, segurando recém nascidos apenas com uma mão, enquanto acena para o público com a outra. É o fim da picada.