PROCURA-SE (HÁ MUITO TEMPO) APARTAMENTO.
Se você já tentou comprar, alugar ou arrendar uma casa, apartamento, quitinete ou afins, talvez concorde comigo.
Encontrar o imóvel dos sonhos é mais difícil do que achar o Geninho numa TV de tubo 14” PB após duas ou três taças de Malibu.
A busca começa na tentativa de decifrar os códigos dos classificados. 3d. 1s. 2b. 85au. Grandes oportunidades vêm camufladas por trás de sofisticadas siglas que mais parecem uma batalha naval imobiliária.
A diferença básica entre um anúncio de apartamento e um de massagem afrodisíaca é o número do CRECI que deve sempre acompanhar a oferta. Palavras como “oportunidade”, “ocasião” e “enxuta” costumam trazer valor ao classificado.
- Alô?
- Adriano?
- Sim.
- Aaaa-na-nias.
Os mais chegados sabem o quanto sofro nas mãos do corretor Ananias, um senhor de baixa estatura, pele bege escura, que se veste mal como um demônio, não tem carro próprio, e é dono de voz inconfundível. Pra completar, não encontra nada de útil e só liga em horário inapropriado.
- Adriano?
- Sim.
- Aaaa-na-nias.
- Tô num velório, Ananias, que saco. Encontrou algo?
- Não, saudade mesmo.
Aliás, corretor algum sabe a hora certa de ligar. Você liga na parte da manhã para obter informações e recebe o retorno semanas depois. O profissional imobiliário, todo íntimo, já te chama por apelidinho e jura de pés juntos que pelo seu perfil (da onde me conhece tanto?), tem uma jóia rara para apresentar. Sim, além do Ananias, sou servido por uma dúzia deles, todos com o mesmo ar vendedor irritante e a falsa intimidade construída via telefone.
Se você pede com 2 dormitórios, a busca traz com 4. Se o teto de valor é 250, surge um “a-cha-do” de 390. Piscina? Não tem, mas rola um belo espaço gourmet, coladinho na casa do zelador.
Itens como espaço gourmet só servem para comprovar que o seu apartamento será extremamente pequeno.
Na prática, as construtoras diminuem cada vez mais sua área útil, “tunando” o térreo com coisas que não caberiam no seu imóvel: lavanderia, ofurô, varal coletivo, brinquedoteca (vai guardar onde os brinquedos do Luquinhas num apê de 30 metros?), mini-floresta, arvorismo, fazendinha, banho turco, touro-mecânico, e por aí vai.
- Mas Ananias, eu não falei que varanda era um item indispensável?
- Sim, mas olha só que linda essa cor de carpete.
- Cadê a suíte?
- Bobagem. O que o pessoal anda fazendo muito é colocar banheiro químico no dormitório.
- Que pessoal? Que que você tá falando? Larga essa faca!
O dia de visitar as ofertas disponíveis é sempre um misto de sonho e decepção. A cabeça vai longe imaginando aquela grande oportunidade que, no papel, é a descrição exata do que você imagina, mas o que os olhos vêem...
- Sim, concordo que tá lindo. A localização é fantástica, a vista é de capotar, mas esse vulto na parede é meio complicado.
- Bobagem.
- Bobagem? Por que você não me contou essa história de o último proprietário ter se matado na cozinha?
- Ele não se matou. Foi morto por um dos conselheiros, o senhor Marinho, com a chave-inglesa.
E segue a busca pelo cantinho ideal. O importante é não desanimar, muito menos desistir. Mais hora, menos hora, encontro meu paraíso particular, aí, com certeza, me acabo no Malibu, na companhia do querido Ananias.
Encontrar o imóvel dos sonhos é mais difícil do que achar o Geninho numa TV de tubo 14” PB após duas ou três taças de Malibu.
A busca começa na tentativa de decifrar os códigos dos classificados. 3d. 1s. 2b. 85au. Grandes oportunidades vêm camufladas por trás de sofisticadas siglas que mais parecem uma batalha naval imobiliária.
A diferença básica entre um anúncio de apartamento e um de massagem afrodisíaca é o número do CRECI que deve sempre acompanhar a oferta. Palavras como “oportunidade”, “ocasião” e “enxuta” costumam trazer valor ao classificado.
- Alô?
- Adriano?
- Sim.
- Aaaa-na-nias.
Os mais chegados sabem o quanto sofro nas mãos do corretor Ananias, um senhor de baixa estatura, pele bege escura, que se veste mal como um demônio, não tem carro próprio, e é dono de voz inconfundível. Pra completar, não encontra nada de útil e só liga em horário inapropriado.
- Adriano?
- Sim.
- Aaaa-na-nias.
- Tô num velório, Ananias, que saco. Encontrou algo?
- Não, saudade mesmo.
Aliás, corretor algum sabe a hora certa de ligar. Você liga na parte da manhã para obter informações e recebe o retorno semanas depois. O profissional imobiliário, todo íntimo, já te chama por apelidinho e jura de pés juntos que pelo seu perfil (da onde me conhece tanto?), tem uma jóia rara para apresentar. Sim, além do Ananias, sou servido por uma dúzia deles, todos com o mesmo ar vendedor irritante e a falsa intimidade construída via telefone.
Se você pede com 2 dormitórios, a busca traz com 4. Se o teto de valor é 250, surge um “a-cha-do” de 390. Piscina? Não tem, mas rola um belo espaço gourmet, coladinho na casa do zelador.
Itens como espaço gourmet só servem para comprovar que o seu apartamento será extremamente pequeno.
Na prática, as construtoras diminuem cada vez mais sua área útil, “tunando” o térreo com coisas que não caberiam no seu imóvel: lavanderia, ofurô, varal coletivo, brinquedoteca (vai guardar onde os brinquedos do Luquinhas num apê de 30 metros?), mini-floresta, arvorismo, fazendinha, banho turco, touro-mecânico, e por aí vai.
- Mas Ananias, eu não falei que varanda era um item indispensável?
- Sim, mas olha só que linda essa cor de carpete.
- Cadê a suíte?
- Bobagem. O que o pessoal anda fazendo muito é colocar banheiro químico no dormitório.
- Que pessoal? Que que você tá falando? Larga essa faca!
O dia de visitar as ofertas disponíveis é sempre um misto de sonho e decepção. A cabeça vai longe imaginando aquela grande oportunidade que, no papel, é a descrição exata do que você imagina, mas o que os olhos vêem...
- Sim, concordo que tá lindo. A localização é fantástica, a vista é de capotar, mas esse vulto na parede é meio complicado.
- Bobagem.
- Bobagem? Por que você não me contou essa história de o último proprietário ter se matado na cozinha?
- Ele não se matou. Foi morto por um dos conselheiros, o senhor Marinho, com a chave-inglesa.
E segue a busca pelo cantinho ideal. O importante é não desanimar, muito menos desistir. Mais hora, menos hora, encontro meu paraíso particular, aí, com certeza, me acabo no Malibu, na companhia do querido Ananias.