BALSA OU FERRY BOAT?
Vivemos um super aquecimento nunca antes experimentado, talvez apenas pelos proprietários de Fiat Tempra, referente aos cursos populares de idiomas.
Com um pouquinho de tempo, dinheiro e zero de vergonha na cara, todos podem seguir o bom exemplo do titio Joel Santana.
- Muito bom o seu teste, Gilmar. Acho que podemos alocá-lo na turma dos intermediários vespertinos.
- Mas eu só falei McDonald’s, Play Station e New Kids on the Block...
- Pois é. Aqui nós reconhecemos um grande talento de longe.
Graças a este fenômeno, o mundo corporativo está inundado de currículos com candidatos nível “básico” no inglês, avançado em espanhol, e experts em linguajar chulo de Orkut.
Inglês fluente então? Minha nossa. O império da charlatanice lingüística.
- Mas Amadeu, pelo que vi no seu perfil na Catho, você dizia ser fluente.
- Influente minha querida, influente. Já passo dos 300 seguidores no Twitter.
O grande problema por trás dessa patifaria é a crescente falta de identidade nacional, puxada por palavras de efeito em inglês: insight; pipeline; benchmark; approach, give me five...
- Gente, tá tudo muito sem sabor. Precisamos ir mais longe, pensar grande, ir out of the box.
(enquanto os novos contratados cochicham entre si)
- Por que ele é assim?
- Diz que bebe Campari.
- Ah, tá.
Na minha opinião, se tem tradução em português, e além de tudo, é mais curto e fácil de dizer, pra que complicar?
- Podemos decidir isso numa round table.
- Fuck you. (dane-se, segundo os tradutores de filmes da Globo)
Pior do que usar o termo em inglês e torná-lo um verbo conjugado em português:
- Eu brainstormo. Tu brainstormas. Ele brainstorma. Nós brainstormamos. Vós brainstormais. Eles brainstormam.
E olha que brainstorm é uma das raridades que ficam melhor do jeito que estão, afinal de contas, “tempestade cerebral” tem mais cara de novela da Record. Glamour zero.
E direto do Bronx para os departamentos de TI das empresas, os deliciosos, “Downlouda aí, mano” e “Boota (buta) aí, malandro”.
Anyway? Whatever?
Já vi gente dar voadora na clavícula por muito menos.
Concordo que o mundo necessite de um idioma oficial, comum a todos, o problema é que esse idioma é o inglês e só o inglês, e não um mix de português, gírias bairristas de Santana, e uma ou outra palavra escolhida aleatoriamente no Michaelis, a R$ 29,90 na Siciliano.
- Nossa, a Martinha tá bonitona, enxuta. Tá rolando um upgrade forte.
- Não é pilates?
Radicalismos à parte, happy hour é mesmo bem melhor do que hora feliz, mas patrão é e sempre será melhor do que “head” de alguma coisa, e exibido, disparado mais legal e ofensivo do que “show off”.
E nesse cabo de guerra português-inglês, ganha quem pode ser dar ao luxo de na hora do lunch andar de ferry boat. Valeu professor, Zeca, upper intermediate pra você.
Com um pouquinho de tempo, dinheiro e zero de vergonha na cara, todos podem seguir o bom exemplo do titio Joel Santana.
- Muito bom o seu teste, Gilmar. Acho que podemos alocá-lo na turma dos intermediários vespertinos.
- Mas eu só falei McDonald’s, Play Station e New Kids on the Block...
- Pois é. Aqui nós reconhecemos um grande talento de longe.
Graças a este fenômeno, o mundo corporativo está inundado de currículos com candidatos nível “básico” no inglês, avançado em espanhol, e experts em linguajar chulo de Orkut.
Inglês fluente então? Minha nossa. O império da charlatanice lingüística.
- Mas Amadeu, pelo que vi no seu perfil na Catho, você dizia ser fluente.
- Influente minha querida, influente. Já passo dos 300 seguidores no Twitter.
O grande problema por trás dessa patifaria é a crescente falta de identidade nacional, puxada por palavras de efeito em inglês: insight; pipeline; benchmark; approach, give me five...
- Gente, tá tudo muito sem sabor. Precisamos ir mais longe, pensar grande, ir out of the box.
(enquanto os novos contratados cochicham entre si)
- Por que ele é assim?
- Diz que bebe Campari.
- Ah, tá.
Na minha opinião, se tem tradução em português, e além de tudo, é mais curto e fácil de dizer, pra que complicar?
- Podemos decidir isso numa round table.
- Fuck you. (dane-se, segundo os tradutores de filmes da Globo)
Pior do que usar o termo em inglês e torná-lo um verbo conjugado em português:
- Eu brainstormo. Tu brainstormas. Ele brainstorma. Nós brainstormamos. Vós brainstormais. Eles brainstormam.
E olha que brainstorm é uma das raridades que ficam melhor do jeito que estão, afinal de contas, “tempestade cerebral” tem mais cara de novela da Record. Glamour zero.
E direto do Bronx para os departamentos de TI das empresas, os deliciosos, “Downlouda aí, mano” e “Boota (buta) aí, malandro”.
Anyway? Whatever?
Já vi gente dar voadora na clavícula por muito menos.
Concordo que o mundo necessite de um idioma oficial, comum a todos, o problema é que esse idioma é o inglês e só o inglês, e não um mix de português, gírias bairristas de Santana, e uma ou outra palavra escolhida aleatoriamente no Michaelis, a R$ 29,90 na Siciliano.
- Nossa, a Martinha tá bonitona, enxuta. Tá rolando um upgrade forte.
- Não é pilates?
Radicalismos à parte, happy hour é mesmo bem melhor do que hora feliz, mas patrão é e sempre será melhor do que “head” de alguma coisa, e exibido, disparado mais legal e ofensivo do que “show off”.
E nesse cabo de guerra português-inglês, ganha quem pode ser dar ao luxo de na hora do lunch andar de ferry boat. Valeu professor, Zeca, upper intermediate pra você.